No último sábado, 6 de setembro, a história da Igreja Católica na Europa recebeu um novo capítulo com a beatificação do jesuíta dom Eduard Profittlich e da húngara Maria Magdalena Bódi. As cerimônias, carregadas de emoção e simbolismo, ocorreram em Tallinn, capital da Estônia, e em Verszprém, Hungria. Esses dois mártires, cuja fé inabalável e trágicas histórias de vida refletem os horrores do totalitarismo, agora são reconhecidos oficialmente por sua devoção e sacrifício.
O histórico da beatificação
Ambos os personagens foram vítimas da brutalidade do regime soviético na década de 1940. Na cerimônia em Tallinn, liderada pelo Cardeal Christoph Schönborn, foi destacada a importância da vida e do testemunho de dom Eduard Profittlich, que viveu em tempos de perseguição religiosa e, mesmo assim, nunca se afastou de sua fé.
Dom Eduard Profittlich (1890-1942) foi o primeiro religioso católico da Estônia a ser beatificado. Nascido em uma família de camponeses no sul do Império Alemão, ele se tornou jesuíta e foi nomeado Administrador Apostólico da Estônia em 1931. Sua vida foi marcada por um intenso compromisso com o povo estoniano e pela busca de promover a paz e o diálogo em tempos conturbados.
A vida de dom Eduard Profittlich
Desde jovem, seu desejo era ser missionário na Rússia, mas a realidade o levou a se tornar arcebispo de Tallinn. Em 1940, ao ser invadido pelos soviéticos, muitos o aconselharam a deixar o país, mas ele optou por permanecer ao lado de sua comunidade. Sua decisão de não abandonar seu povo e sua Igreja custou-lhe a liberdade. Em junho de 1941, ele foi preso e, posteriormente, deportado para a prisão em Kirov, onde morreu em 1942.
Durante sua detenção, a fé de dom Eduard se tornou um testemunho poderoso. Os relatos de seus interrogatórios mostram que ele nunca cedeu às pressões e continuou a afirmar sua crença, mesmo nos momentos mais difíceis. “A sua santidade não se limitou ao momento do seu martírio. Sua morte foi apenas o último ato de uma vida dedicada à missão da Igreja e ao povo estoniano”, afirmou Marge-Marie Paas, postuladora diocesana da Causa de Beatificação de Profittlich.
O legado espiritual de dom Eduard
A professora Paas ressaltou a importância de heranças espirituais deixadas por dom Eduard. Ele ensinou que o essencial da vida não reside na riqueza material, mas sim no crescimento espiritual. “Ele falava continuamente sobre a presença de Deus no mundo, mesmo nas dificuldades”, afirmou. Essa visão ajudou a criar uma comunidade de fé que perdura até hoje, apesar de seu tamanho reduzido — atualmente, a comunidade católica na Estônia conta com cerca de 8.000 fiéis.
A história de Maria Magdalena Bódi
Maria Magdalena Bódi também foi reconhecida por sua coragem ao lutar contra uma agressão. Em março de 1945, em um cenário de guerra, ela tentou se defender de um soldado soviético durante uma tentativa de estupro, e acabou sendo morta. Sua história é um lembrete dos desafios que mulheres enfrentaram durante períodos de agressão e violência.
A beatificação de Maria Magdalena ocorre em um momento crítico, refletindo a luta das mulheres e suas histórias de resiliência diante da opressão. Seu reconhecimento ao lado de dom Eduard Profittlich destaca um aspecto importante da história da Igreja: a voz das vítimas, que muitas vezes foram silenciadas, mas cujas vidas têm algo a ensinar sobre fé e coragem.
Reflexão final
A beatificação de dom Eduard Profittlich e de Maria Magdalena Bódi é mais do que apenas um ato cerimonial. Representa uma memória coletiva de fé, coragem e resistência em tempos de opressão. As histórias deles, agora elevadas aos altares, servem não apenas para inspirar a comunidade católica, mas toda a sociedade, lembrando que, independentemente das adversidades, a esperança e a fé podem brilhar mesmo nos momentos mais sombrios.