Campeão mundial de Fórmula 1 em 1992, o britânico Nigel Mansell, de 72 anos, participou de eventos comemorativos dos 75 anos da categoria, em julho, e ainda deu algumas voltas na pista com carros icônicos, como o Williams FW14B, que lhe deu o seu único título. A proximidade com a principal modalidade do automobilismo se mantém apesar das três décadas de aposentadoria, e ele dá seus pitacos sobre o esporte na atualidade. Em entrevista ao GLOBO, Mansell traçou um paralelo entre a F1 da sua geração e a atual — destacando avanços técnicos, mudanças no perfil dos pilotos e a essência que, para ele, ainda resiste ao tempo.
A evolução física dos pilotos
No que diz respeito à relação do piloto com o carro, Mansell enfatiza que as mudanças foram significativas. “O que mudou completamente foi a relação física do piloto com o carro. Quando estávamos dirigindo, era uma relação 1 para 1 entre o volante, a pista, o carro e o piloto. Você precisava ter muita força na parte superior do corpo para segurar o carro. Ao fazer uma curva, precisava lutar com o volante. Definitivamente, a maior diferença é essa. A Fórmula 1 de agora é menos exigente fisicamente do que era antes”, recorda.
Impacto da tecnologia
Com a introdução da direção hidráulica a partir de 1993, segundo ele, o esforço físico caiu drasticamente, mas os pilotos continuam lidando com a força até de 5G nas curvas. “Ainda é brutal”, acrescenta Mansell. “Eles ainda são incríveis pilotos. A competição é feroz, as corridas são rápidas, e a pressão continua enorme. Isso nunca vai mudar.”
Segurança em primeiro lugar
As mudanças não diminuem o talento dos pilotos das novas gerações, que contam hoje com algo que faltava a ele e a seus contemporâneos: a segurança. Mansell se diz impressionado com o tamanho dos carros e elogia os organizadores da F1, que conseguiram reduzir o número de acidentes fatais. O ponto de inflexão foram as mortes de Roland Ratzenberger e Ayrton Senna no GP de San Marino, em Imola, na Itália, em 1994.
“Os carros agora são maiores e mais longos. As células de segurança são magníficas. Vamos fazer aqui um elogio à FIA e aos fabricantes por fazerem um trabalho excepcional desde aquele terrível fim de semana de 1994”, diz.
Quem são os melhores pilotos?
Perguntado sobre quem integraria sua lista dos maiores da História, Mansell responde com bom humor, mencionando nomes do presente, do passado e dos primórdios da Fórmula 1. Ele destaca a completude de Max Verstappen, apesar dos momentos controversos nas pistas, a alta classe de Lewis Hamilton — de quem viu a veia de campeão logo no início da carreira — e o gigantismo de Michael Schumacher. Mas não esquece do pentacampeão Juan Manuel Fangio e Stirling Moss, que foi quatro vezes consecutivas vice-campeão mundial, de 1955 a 1958.
“É preciso voltar a Fangio. E Stirling Moss é o maior piloto da História que nunca venceu um campeonato mundial. Os pilotos de antigamente provavelmente eram um pouco mais durões”, disse Mansell.
Futuro promissor
Históricos como o de Moss exaltam o feito de quem faz parte do grupo dos campeões mundiais. Lugar que um dos dois pilotos da McLaren, Lando Norris e Oscar Piastri, ocupará ao fim do ano, na opinião de Mansell. “Ser campeão mundial é algo muito especial. É um clube muito seleto. Acho que só houve 34 campeões desde o início do campeonato. Alguns foram gananciosos e venceram várias vezes”, brinca ele, que também conquistou o título da Fórmula Indy em 1993. “Chegar ao topo e ser multicampeão é para poucos. Os dois pilotos da McLaren têm essa oportunidade. Eles só precisam não se atrapalhar.”
A visão de Mansell sobre a evolução e as mudanças na Fórmula 1 mostra como o esporte se adaptou com o tempo, mantendo sua essência e, ao mesmo tempo, oferecendo mais segurança e tecnologia para os pilotos. Para os fãs de automobilismo, as previsões de um futuro campeão só acrescentam ao fascínio que a F1 já proporciona.