Nancy Mace, deputada republicana da Carolina do Sul e integrante do Comitê de Supervisão do Congresso, deixou uma reunião fechada com vítimas de Jeffrey Epstein em Washington, na terça-feira, alegando ter sofrido um ataque de pânico. Apesar de sua emotividade, críticos destacam uma aparente contradição em seu posicionamento, considerando seu apoio inabalável ao ex-presidente Donald Trump.
Narrativa emocional e postura pública de Mace
Após sair visivelmente abalada, Mace explicou seu afastamento na rede social X (antigo Twitter), afirmando: “Sinto a dor imensa de como as vítimas lutam por si mesmas, pois sabemos que ninguém mais lutará por nós. Deus abençoe todos os sobreviventes.”
Na reunião, que ocorreu de forma reservada, participantes relataram que Mace parecia bastante sensibilizada, chorando e visivelmente abalada, o que gerou uma discussão sobre sua sinceridade diante da causa. Ela se recusou a falar com repórteres no local, optando por publicar sua mensagem posteriormente.
Histórico de depoimentos e posições polémicas
Nomeada na imprensa por seu discurso contundente contra homens acusados de abuso, Mace revelou em fevereiro acusar quatro homens — incluindo seu ex-noivo, Patrick Bryant — de abuso sexual, alegando ter sido doping e filmada sem consentimento. Todas as alegações foram negadas pelos envolvidos, e uma pessoa chegou a processá-la por difamação.
“Hoje, vou incendiar as pontes para queimar o caminho à frente”, declarou na ocasião, em clara manifestação de sua postura combativa contra o que ela chamou de “covardes que se aproveitam de mulheres”.
A ironia na defesa de Trump e as conexões polémicas
Contradição na lealdade de Mace
Porém, há uma ironia marcante nessa empatia de Mace em relação às vítimas de Epstein, dado seu apoio fervoroso ao ex-presidente Donald Trump. Em 2023, Trump foi considerado civilmente responsável por abuso sexual contra a escritora E. Jean Carroll, na década de 1990, em um julgamento que o condenou por ações que, embora não tenham sido classificadas como estupro pelos jurados, enquadraram-se na definição do ato.
Além disso, Trump tem uma história amplamente documentada de acusações de assédio e abuso sexual por várias mulheres ao longo de décadas, incluindo uma gravação de 2005 onde ele comenta que pode “apalpar mulheres pelo pussy”, alegações essas que acumulam uma lista extensa de denúncias públicas.
Conexões com Epstein
Outro ponto que inflama a contradição é a relação do ex-presidente com Epstein, dado que Trump e seus assessores tiveram acesso a documentos do caso, que continuaram ocultados por sua administração até a divulgação recente de milhares de registros. Trump, que nega envolvimento na abuse sexual, tem sido alvo de suspeitas por uma possível relação com Epstein e seus negócios obscuros, além de sua resistência em liberar todos os arquivos do caso.
Na terça-feira, o Comitê de Supervisão divulgou documentos do processo Epstein na internet, mesmo que em uma pasta de difícil acesso, reforçando o interesse público pelo tema.
Reação pública e o peso da hipocrisia
A postura de Mace gerou reações mistas. Enquanto alguns elogiaram sua coragem ao se emocionar e falar sobre as vítimas, outros apontaram uma incoerência, considerando seu apoio ao político que enfrentou diversas denúncias de abuso sexual.
Especialistas destacam que a diferença entre empatia genuína e postura política pode estar na escolha de casos que ela decide apoiar ou divulgar — um tema que continúa em evidência, sobretudo porque a relação de Trump com Epstein permanece uma mancha na narrativa de justiça e transparência.
Perspectivas futuras
Espera-se que o fato reacenda debates sobre a verdadeira postura dos políticos frente às vítimas de abuso e sobre a integridade de figuras que, apesar de opinarem sobre justiça, mantêm vínculos com escândalos de abuso. Mace ainda não comentou oficialmente sua saída da reunião, e o impacto de sua postura será avaliado nos próximos dias.