O cineasta Silvio Tendler, uma das figuras mais respeitadas do cinema documentário no Brasil, faleceu nesta sexta-feira, aos 75 anos. A sua produção abrangeu temas diversos, mas um dos seus destaques foi o documentário “O Brasil na Terra do Misha”, que explorou a participação brasileira nas Olimpíadas de Moscou em 1980. Nesta obra, Tendler deu voz a atletas brasileiros, como Bernardinho e Oscar Schmidt, que compartilharam suas experiências e desafios durante a competição marcada por um dos maiores boicotes da história.
Um olhar sobre os Jogos Olímpicos de 1980
As Olimpíadas de Moscou foram especial não apenas por sua significância esportiva, mas também pelo contexto político global. Com 70 países, liderados pelos Estados Unidos, se retirando da competição em protesto à invasão soviética do Afeganistão, a edição de 1980 foi cercada de controvérsias. O documentário de Tendler destacou a performance das equipes brasileiras, que, mesmo sem conquistar medalhas, mostraram resiliência e coragem em um cenário hostil.
As histórias contadas por Bernardinho e Oscar Schmidt
No documentário, Tendler apresentou a trajetória dos atletas brasileiros que enfrentaram as adversidades durante os Jogos. O icônico jogador de vôlei Bernardinho foi um dos entrevistados que relembrou a experiência. “O símbolo olímpico, que era o urso Micha, foi uma coisa muito significativa, pois ele era carinhoso, carismático, era emocionante. Eu lembro bastante”, afirmou o atual técnico da seleção masculina de vôlei, refletindo sobre os momentos marcantes da competição.
Por outro lado, o “mão santa” Oscar Schmidt, considerado um dos maiores jogadores de basquete do Brasil, também deixou suas impressões. “A entrada para jogar basquete era um ginásio altíssimo, portas grandes, tapete vermelho. Coisa que parecia de um império romano. Acho que todo mundo que teve a oportunidade de ver não vai esquecer”, lembrou Schmidt, enfatizando o impacto visual e emocional da competição.
Produção do documentário e depoimentos de outros atletas
O filme, lançado em 2013 e com 26 minutos de duração, não se limitou apenas às vozes de Bernardinho e Schmidt. Silvio Tendler entrevistou diversos atletas que participaram dos Jogos, como os nadadores que se destacaram na competição. Os relatos foram enriquecidos por profissionais da imprensa que cobriram o evento, oferecendo uma visão abrangente sobre a realidade das Olimpíadas de 1980 e seu legado no esporte brasileiro.
Misha, o mascote olímpico perdido nas memórias
Um dos elementos que se tornaram símbolo daquela edição foi o mascote Misha, um urso que fez sucesso entre os espectadores e que, ao final da cerimônia de encerramento, emocionou a todos com seu choro. A figura do Misha se tornou emblemática, representando tanto a alegria quanto a tristeza do evento, simbolizando a fusão dos sentimentos que permeavam aqueles dias de competição.
A obra de Silvio Tendler não apenas preserva a memória dos Jogos Olímpicos de 1980, mas também se torna um tributo à resistência e à paixão pelo esporte no Brasil. Sua capacidade de contar histórias complexas e humanas fez dele um pilar da cinematografia nacional, influenciando gerações e inspirando futuros documentaristas a abordarem temas sociais e esportivos com empatia e profundidade.
Silvio Tendler deixa um legado inestimável tanto no cinema quanto no coração dos brasileiros que acompanharam e se inspiraram por suas obras. A contribuição dele para o documentário brasileiro será sempre lembrada e valorizada, especialmente por aqueles que vivenciaram ou se interessam pela rica história das Olimpíadas.
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