Preso no regime domiciliar há um mês e proibido de se comunicar por telefone e redes sociais, o ex-presidente Jair Bolsonaro tem dado a quem o visita sinais trocados sobre um eventual apoio à candidatura à presidência do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Ambiguidade nas declarações de Bolsonaro
Após ter dado um “aval” a Tarcísio para que nacionalizasse seu discurso político, Bolsonaro mudou repentinamente seu tom. Em conversas com políticos que o visitaram pouco antes do julgamento da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que não apoiará Tarcísio “nem a pau” e sugeriu que lançar um membro da família, como o autoexilado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), poderia ser mais vantajoso para sua sobrevivência política.
Bolsonaro ainda se queixa da “pressa” demonstrada por alguns aliados, como o senador Ciro Nogueira (PP-PI), para que Tarcísio se posicione como presidenciável, sem esperar o desenrolar do julgamento no STF.
Pressão e incertezas políticas
Além disso, o ex-presidente enfrenta uma intensa pressão para que desista de se lançar como candidato e indique alguém da família Bolsonaro como sucessor. Ele está inelegível até 2030, após condenação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Apesar disso, Bolsonaro observa com expectativa a possibilidade de que a anistia aos presos do 8 de janeiro seja votada no Congresso, o que poderia mudar o cenário eleitoral para ele e seus aliados.
Entre as tensões, ele acredita que Ciro Nogueira está interessado em prejudicar sua imagem e se posiciona como vice de Tarcísio, buscando apenas os votos da base bolsonarista, sem consideração pela dinastia política.
O dilema de apoio a Tarcísio
Em outros momentos, Bolsonaro parece ter mudado de postura e avalia a “solução Tarcísio” como uma alternativa a outros nomes da direita, incluindo os governadores Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) e Ratinho Júnior (PSD-PR). Esse movimento reflete a tática habitual de Bolsonaro de provocar reações de seus interlocutores ao discutir cenários políticos.
No entanto, essa oscilação de posicionamento pode também ser um reflexo das dificuldades enfrentadas pelo ex-presidente, que se encontra encurralado pela Justiça e pela política. Com a iminente fase do julgamento que pode resultar em uma pena longa, a pressão sobre ele para apoiar ou não Tarcísio aumenta.
A corrida presidencial e as articulações necessárias
A articulação do Centrão para convencê-lo a endossar Tarcísio se intensificou, ainda que os filhos de Bolsonaro, Carlos e Eduardo Bolsonaro, tenham criticado abertamente os rumores de uma aliança prematura.
A indefinição de Bolsonaro não apenas impacta sua imagem, mas também as estratégias para a eventual sucessão de Tarcísio em São Paulo, caso decida se candidatar à presidência. Aliados já miram o Palácio dos Bandeirantes, o que poderá acirrar as disputas políticas nas próximas semanas.
Além disso, quanto mais tarde for a decisão de Jair Bolsonaro sobre seu apoio ou a candidatura de Tarcísio, menos tempo os partidos terão para chegar a um consenso sobre o candidato governista, o vice e as candidaturas ao Senado na chapa.
Com um cenário repleto de instabilidades e incertezas, as próximas semanas serão decisivas para Jair Bolsonaro e sua influência sobre a política nacional, especialmente em um período tão conturbado quanto é o atual.