A primeira audiência pública do projeto de construção do túnel da Avenida Sena Madureira, localizado na Vila Mariana, em São Paulo, foi palco de intensas discussões e altercações na noite desta quinta-feira (4). O projeto, da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), propõe a construção de dois túneis ligando a Rua Sena Madureira à Avenida Ricardo Jafet, no Ipiranga. O evento, que teve lugar no auditório do Instituto de Engenharia, foi marcado por empurra-empurra e gritaria, refletindo a tensão entre os moradores e os representantes da administração municipal.
Audiência tumultuada
O encontro, que visava debater o projeto com a comunidade, acabou se tornando um campo de batalha verbal. Diversos moradores da comunidade Sousa Ramos relataram que foram impedidos de entrar no auditório. Em contraste, segundo as acusações, indivíduos não relacionados ao projeto foram trazidos por vereadores da base governista para lotar o espaço. O auditório, com capacidade para 172 pessoas, não foi suficiente para acomodar todos os interessados, resultando na exclusão de muitos moradores locais.
Um dos pontos de tensão foi a entrada do vereador Toninho Vespoli (PSOL), que foi barrado pelos guardas municipais, levando a uma cena de confronto. O ex-vereador Aurélio Nomura (PSD) tentou intervir para evitar uma escalada de agressões. A Guarda Civil Metropolitana (GCM) foi criticada por sua atuação, uma vez que muitos argumentavam que, mesmo com lugares disponíveis, os guardas barravam a entrada dos manifestantes.
Reação da Prefeitura
Em resposta aos incidentes, a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb) afirmou, em nota, que não houve restrição à participação popular e que a reunião foi transmissível online. O órgão assegurou que a obra beneficiará mais de 800 mil pessoas diariamente e que os estudos foram atualizados para garantir impactos socioambientais positivos. A nota ainda destacou que as árvores afetadas pela obra serão preservadas e que o atendimento habitacional aos moradores será garantido.
Críticas ao projeto
No entanto, a comunidade permanece cética. Moradores alegam que o novo projeto não resolve os problemas de tráfego existentes na região e levantam preocupações sobre o impacto ambiental da construção, como a remoção de árvores e o deslocamento de famílias. Eliane Pimenta, uma moradora contrária ao projeto, denunciou durante a audiência que o formato do evento não respeitou o direito de debate da comunidade e caracterizou o que aconteceu como uma falta de respeito às vozes locais.
A ativista Rosângela Costa enfatizou que a obra, além de ser custosa, resultará em danos permanentes à vegetação e que, ao invés de melhorar o tráfego, piorará a situação. Os críticos do projeto pedem que a Prefeitura realize uma nova audiência em um espaço maior, como a Câmara Municipal, para permitir uma participação mais ampla da comunidade.
Próximos passos
Após o tumulto da audiência, a Prefeitura de São Paulo anunciou que uma nova reunião será convocada na próxima segunda-feira (8), com o local e horário a serem divulgados. A Siurb destacou que, uma vez finalizadas as etapas de audiência, todas as contribuições técnicas recebidas serão analisadas antes do edital de contratação da obra ser publicado.
À luz das controvérsias e protestos, a situação sobre o túnel da Sena Madureira continua a evoluir, e a comunidade aguarda que suas vozes sejam finalmente ouvidas em um futuro encontro.
Em meio a um cenário de crescente descontentamento, a gestão municipal enfrenta um desafio significativo na mediação de interesses divergentes e na busca por uma solução que equilibre desenvolvimento urbano e preservação ambiental.