Brasil, 4 de setembro de 2025
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Refugiado Alan Kurdi: dez anos de silêncio diante da tragédia

A morte do pequeno Alan Kurdi, em 2015, simboliza a ineficácia da Europa em lidar com a migração humanitária.

O corpo da criança de apenas três anos foi encontrado nas praias turcas, devolvido pelo mesmo mar que também engoliu seu irmãozinho e sua mãe. Um sacrifício escandaloso que dilacerou as consciências, mas que hoje voltaram a se fechar diante dos massacres no Mediterrâneo e da incapacidade da Europa de administrar o fenômeno migratório com humanidade.

Dias que mudaram a percepção global

Há imagens tão fortes que ficam gravadas na mente e no coração. Você se lembra delas com nitidez mesmo depois de muito tempo. Como a do pequeno Alan Kurdi, de apenas três anos, refugiado sírio em fuga com a família, cujo corpinho sem vida foi encontrado na praia de Bodrum, na Turquia. Era 2 de setembro de 2015 e, naquele naufrágio, morreram outras 11 pessoas, entre elas o irmãozinho de Alan, Ghalib, de cinco anos, e a mãe, Rehanna. A foto que mostrava o corpinho deitado de barriga para baixo, embalado pela maré, quase como se estivesse dormindo, logo apareceu nos sites de notícias de todo o mundo e, no dia seguinte, nas primeiras páginas dos jornais.

O impacto da imagem de Alan

Como era de se esperar, a imagem, tirada por Nilufer Demir, provocou uma onda de comoção e indignação. Aquela morte escandalosa deu início a um processo que oscilava entre a exaltação coletiva da mídia, amplificada pela velocidade da internet, e a manifestação intensa e pessoal de compaixão.

Afinal, ao publicar aquela foto, esperava-se que as consciências acostumadas às notícias contínuas de naufrágios com mortos e desaparecidos fossem abaladas. E que esse abalo chegasse também àqueles que tinham a responsabilidade de gerenciar o fenômeno migratório, para que, em um surto de humanidade, deixassem de lado as instrumentalizações propagandísticas e agissem para impedir as matanças. Contudo, esse movimento inicial de empatia logo se esvaiu.

Um retorno à indiferença

E, de imediato, algo realmente se moveu. Mas durou pouco. A “Fortaleza Europa” logo voltou a fechar as portas, a erguer novos muros; até mesmo através da externalização das fronteiras. Dez anos depois, observamos novamente aquela foto comovente de Alan. O coração ainda se aperta e, se possível, dói ainda mais. Porque agora estamos desiludidos. Sua morte não mudou nada.

A comoção, a consternação e a indignação não se transformaram em um movimento capaz de influenciar a política. Cujas restrições, aliás, não impediram as partidas para a Europa e as tragédias, como evidenciado pelo fato de que, desde 2014, mais de 30 mil pessoas morreram no Mar Mediterrâneo, entre elas muitas crianças.

O legado de Alan Kurdi

A habituação retomou, portanto, o domínio das consciências, salvo breves sobressaltos (como no caso do massacre de Cutro), e o medo do estrangeiro, alimentado pelos populismos, voltou a ditar a agenda política. E assim, a foto de Alan, símbolo das tragédias do Mediterrâneo que deveriam ter sido evitadas, torna-se hoje um ícone de um fracasso. Ela nos lembra o naufrágio vergonhoso de nossa civilização.

Na lembrança do pequeno Alan Kurdi, que faz jus à análise das políticas migratórias contemporâneas, é crucial refletir sobre o que a sociedade e os governantes têm feito para garantir que nenhuma vida seja perdida desnecessariamente em busca de um futuro melhor. Se as imagens têm o poder de estimular mudanças, é hora de transformar a dor em ação.

O legado do pequeno Alan Kurdi deve servir como um chamado à humanidade e um lembrete doloroso de que devemos avançar, priorizando a vida e a dignidade de todos os indivíduos, independentemente de sua origem.

O que temos aprendido ao longo dessa última década? Afinal, a história de Alan não pode se repetir. Cada vida importa.

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