Brasil, 5 de setembro de 2025
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Reação de uma trabalhadora sexual ao filme Anora: opiniões e críticas

Uma acompanhante de Manhattan expressa sua revolta e visão realista sobre a representação da indústria no filme Anora, destacando distorções e idealizações.

Ao assistir ao filme “Anora”, dirigido por Sean Baker e estrelado por Mikey Madison, uma jovem acompanhante de 25 anos de Manhattan, Emma*, ficou profundamente irritada e preocupada com a forma como a indústria do sexo é retratada na obra. O filme, que conquistou cinco Oscars e foi amplamente elogiado, apresenta uma narrativa de Cinderella moderna, mas a visão de quem vive a realidade das acompanhante revela diferenças cruciais.

Primeiras impressões e desconfiança

Emma disse que, ao assistir às primeiras cenas do clube de strip, sentiu-se como se estivesse no seu ambiente de trabalho. “Quando vi o início, achei que era real, porque parecia comigo, com o que vejo todos os dias”, explica. Essa autenticidade inicial foi um ponto que a levou a acreditar na verossimilhança da narrativa, já que a indústria do sexo, para ela, possui aspectos que não costumam ser retratados na mídia.

Reações às atitudes das personagens

A jovem destacou sua irritação ao ver as colegas comemorando a noiva Ani por estar engajada com um homem mais jovem e sem renda própria. Para ela, essa cena simboliza uma atitude que ela mesmo, e muitas colegas, considera errada, pois reforça a dependência financeira, algo que é refutado por muitas no setor. “Ninguém na minha rotina iria em frente com uma relação dependente assim, somos muito conscientes de nossas escolhas econômicas”, afirma Emma.

Depoimentos sobre a cultura da indústria

Emma também criticou a cena das “meninas malvadas” no clube, afirmando que esse comportamento não sobreviveria na sua experiência. “O que me mantém na profissão é a inteligência das meninas na sala de vestir, sua força e solidariedade”, ressalta ela. Segundo ela, a narrativa do filme poderia ter sido mais realista se Ani tivesse recebido alertas sobre deixar sua independência, algo que ela acredita ser fundamental na vida dessas profissionais.

Representação de Ani e problemas de idealização

Emma criticou a personagem de Ani por sua sexualização excessiva após o casamento. “Isso parece um sonho de homem, uma fantasia de como a relação deve ser”, ela observa. Para a acompanhante, a ideia de manter uma persona constantemente provocante não condiz com a rotina real, onde a atuação sempre envolve uma separação entre a personagem de trabalho e o que ela realmente sente.

Ela também condenou a construção da personagem como alguém ingênua, capaz de acreditar que Vanya, que acaba de conhecê-la, realmente se apaixonaria por ela. “Isso é uma distorção, ninguém na nossa realidade se apaixona por alguém que conhece há poucos dias na boate”, complementa.

Críticas ao foco emocional e ao romance idealizado

Para Emma, o maior problema da narrativa é a tentativa de transformar a indústria do sexo em uma história de dor e sofrimento, especialmente na sua fase emocional. “Embora eu tenha passado por dificuldades, minha dor não vem do sexo, mas da insegurança financeira e da falta de respeito no mundo”, ela declara. Para ela, o filme reforça um estereótipo de mulher emocionalmente vulnerável, explorada por um homem gentil que não representa a maioria da realidade.

Visões sobre a maneira que o filme retrata o sexo e a vulnerabilidade

Ela acredita que muitas produções tendem a explorar a tristeza das mulheres na indústria do sexo, reforçando a ideia de que seu sofrimento é outro aspecto da narrativa. “Muita gente acha que mostrar sofrimento é uma representação autêntica, mas a nossa verdade é mais complexa”, afirma Emma. Ela deseja que a história terminasse de forma mais realista, com ela rejeitando a aproximação de Igor, símbolo da manipulação masculina no filme.

Críticas à idealização masculina e às representações clichês

Outra preocupação de Emma é que o filme reforça o clichê de que os homens “bonzinhos” querem salvar ou conquistar as profissionais do sexo injustamente. “Na nossa experiência, muitos homens jovens se acham superiores e acham que podemos acabar querendo um relacionamento com eles por interesse”, relata. Para ela, essa fantasia de romance e conexão emocional entre uma acompanhante e um cliente é uma falácia que alimenta o estereótipo de vulnerabilidade feminina.

Reflexões finais e críticas à “romantização” do sofrimento

Ela afirma que o filme joga com a ideia de que mostrar dor e tristeza é uma forma de representação “autêntica”. Contudo, Emma reforça que sua experiência mostra que os reais desafios da profissão não estão na sexualidade, mas na instabilidade financeira e na falta de reconhecimento social. “As pessoas lucram com a fantasia de que somos umas vítimas emocionalizadas, mas a nossa força está justamente na autonomia e na inteligência das mulheres na indústria”, conclui.

*Nome fictício para preservar identidade.

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