A operação de compra do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB) foi finalmente barrada pelo Banco Central nesta quinta-feira (4), encerrando meses de negociações polémicas. O veto ocorreu após uma análise detalhada das implicações financeiras e regulatórias do negócio.
Início da disputa: proposta e riscos
Em março, o conselho do BRB aprovou a aquisição de 58% do Banco Master por cerca de R$ 2 bilhões, uma tentativa de ampliar suas operações e aliviar dificuldades financeiras do banco mineiro, conhecido pelos altos riscos assumidos por sua estratégia de investimentos.
Apesar de o Master registrar uma receita de aproximadamente R$ 1 bilhão em 2024, seu modelo de negócios — voltado para captação via CDBs de curto prazo e aplicações em instrumentos de risco — gerava dúvidas quanto à sua estabilidade financeira.
Sabotagem por entraves jurídicos e regulatórios
Ações judiciais e questionamentos oficiais
Durante os meses seguintes, órgãos de controle e o Ministério Público do DF questionaram a operação. Entre as ações, destacou-se uma liminar do Tribunal de Justiça do DF que chegou a impedir a assinatura do contrato de compra por falta de autorização legislativa e assemblear.
Após decisões judiciais contrárias, a Justiça do DF autorizou a continuidade do processo, mas o Banco Central deu um passo decisivo ao bloquear a operação, apoiado na avaliação de riscos e na necessidade de proteção ao sistema financeiro.
Avaliação do Cade e pressão política
Em junho, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a operação, indicando que ela não apresentava impacto relevante na concorrência do setor bancário. Mesmo assim, o Banco Central manteve o veto, alegando riscos potencializados por atividades financeiras de alto risco do Master.
Implementação e resistência na tramitação legislativa
Embora o governo de Ibaneis Rocha tenha enviado à Câmara Legislativa um projeto de lei autorizando a aquisição, a votação foi marcada por críticas à transparência do processo e às dúvidas sobre a solidez do banco alvo.
Em agosto, a Justiça do DF confirmou a impossibilidade da compra por falta de autorização legislativa. Poucos dias depois, a tramitação do projeto de lei foi concluída, permitindo que o governo sancionasse a operação com condições restritas, autorizando a compra de 49% das ações ordinárias e 100% das ações preferenciais do Master.
Razões do veto do Banco Central
Segundo o Banco Central, a operação representa riscos excessivos ao sistema financeiro, considerando a estrutura de passivos do Banco Master, marcado por concentrações em aplicações de curto prazo de alto risco. A autoridade monetária também apontou a possibilidade de impacto na estabilidade financeira em caso de crise ou dificuldades de liquidez no banco alvo.
“A preservação da segurança do sistema financeiro é prioridade”, afirmou um representante do Banco Central, reforçando a avaliação de que o negócio poderia comprometer o equilíbrio do setor bancário nacional.
Repercussões e próximos passos
A decisão do Banco Central deve desencadear novas discussões no setor e na esfera política, especialmente quanto à fiscalização das operações de risco e às possibilidades de novos investimentos do BRB. Especialistas destacam que a operação poderia abrir precedentes, mas destacou-se a importância do rigor regulatório para evitar instabilidades.
A expectativa é que o BRB avalie futuras estratégias de expansão, agora dentro do novo cenário regulatório. O Banco Central reforça que continuará atento às operações do setor financeiro para garantir a estabilidade econômica do país.