Enquanto aguarda o resultado da apuração eleitoral que definirá seu novo presidente, a Guiana, pequeno país da América do Sul com as maiores reservas de petróleo per capita do mundo, enfrenta uma delicada situação de equilíbrio entre ameaças da Venezuela, que reivindica dois terços de seu território, e a pressão de seus novos aliados, os Estados Unidos, que lideram o boom petrolífero no país.
Petróleo, Essequibo e a disputa territorial
A região de Essequibo, rica em recursos minerais e petróleo, esteve presente na campanha eleitoral das eleições gerais realizadas na segunda-feira, cuja divulgação dos resultados oficiais pode acontecer hoje. A Guiana sustenta que o traçado de sua fronteira, definido em 1899 pelo Laudo Arbitral de Paris, foi ratificado e busca a confirmação da Corte Internacional de Justiça (CIJ). Já a Venezuela, que rejeita a competência da CIJ, afirma que a fronteira natural é o rio Essequibo, como em 1777, quando a área era uma colônia espanhola.
Nos últimos dias, episódios de tensão marcaram a fronteira. No domingo, a Guiana alegou ter sido atacada com disparos provenientes da margem venezuelana do rio Cuyuní, uma acusação que Caracas classificou como falsa. Apesar dessas ocorrências, o governo da Guiana reforçou que suas forças estão “em alerta e prontas”, mas reconhece que sua força militar é pequena diante do exército venezuelano, que possui maior porte.
Interesses internacionais na região
Aliança com os Estados Unidos
Os EUA, que há anos tentam destituir Nicolás Maduro do poder na Venezuela, reforçaram seu apoio à Guiana. O presidente Donald Trump, por exemplo, apoiou o envio de navios americanos ao Caribe, uma ação de respaldo ao país vizinho na disputa pelo território de Essequibo. Além disso, Georgetown vem se aproximando dos Estados Unidos, mesmo tendo um histórico de alinhamento à esquerda, e há sinais de que Washington tenta aproveitar o medo de uma possível invasão venezuelana para impor suas condições na região.
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou em março que “se os venezuelanos atacarem a Guiana ou a ExxonMobil, a consequência será grave”. A presença da petroleira americana ExxonMobil, que lidera o boom petrolífero no país, também intensifica o interesse externo na disputa, já que Caracas reivindica a área por sua riqueza em petróleo, além de ser um elemento de pressão política de Maduro na crise que enfrenta.
Relações com a Venezuela e o cenário regional
O presidente da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, declarou na semana passada que suas forças estavam “em alerta”, em meio a novas tensões na fronteira com a Venezuela, que não reconhece a Corte Internacional de Justiça. Caracas, por sua vez, mantém suas reivindicações sob o argumento de que o território de Essequibo sempre foi parte do país, reforçando um histórico histórico de disputa intensificada por interesses petrolíferos.
O conflito é alimentado por denúncias de ataques na fronteira, que geram retaliações e continuam a aumentar a instabilidade na região. A Guiana, que defende os limites históricos, busca apoio internacional para ratificar sua posse do território, enquanto a Venezuela mantém sua reivindicação com base no direito antigo e na geografia.
Contexto econômico e perspectivas futuras
Embora possua reservas estimadas em mais de 11 bilhões de barris de petróleo, a Guiana ainda é considerada um mercado de pequeno peso na economia global. Segundo especialistas, o país tem mais potencial do que impacto real, mas a exploração do petróleo aumenta sua importância geopolítica na região. A disputa pelo território do Essequibo, por sua vez, continua sendo o principal obstáculo para uma estabilidade duradoura, enquanto o país tenta equilibrar interesses internacionais e questões nacionais.
A eleição que termina de acontecer pode definir quem gerenciará essas riquezas e enfrentará a crescente tensão com a Venezuela, em um cenário de disputa que promete continuar aquecido nos próximos anos.
Fonte: O Globo