A Casa Branca tomou uma medida inédita ao orientar diversas agências a elaborarem planos para restringir a produção de energia eólica offshore nos Estados Unidos, enquanto intensifica ações contra uma fonte de energia renovável que o presidente Donald Trump costuma criticar como feia, cara e ineficiente. A iniciativa faz parte de uma estratégia de revisão de projetos em andamento, com foco em segurança e impacto ambiental.
Revisão coordenada e restrições à energia eólica offshore
Susie Wiles, chefe de gabinete da Casa Branca, e Stephen Miller, conselheiro sênior, lideram o esforço, segundo fontes que preferiram permanecer anônimas. Diversas agências, tradicionalmente pouco relacionadas ao setor de energia, foram mobilizadas para avaliar riscos ligados às turbinas eólicas em mares e terras federais. Entre as avaliações, estão possíveis efeitos na saúde humana por campos eletromagnéticos e ameaças à segurança nacional devido à presença de radares e drones militares.
Implicações e ações recentes
Na semana passada, o secretário de Saúde e Serviços Humanos, Robert F. Kennedy Jr., estava coordenando uma equipe interdisciplinar para analisar os riscos associados aos parques eólicos offshore, conforme revelou durante reunião de gabinete. Além dele, participantes de outros departamentos, como o de Defesa, discutem a possibilidade de riscos de segurança com tecnologia militar e radares, com declarações públicas reforçando preocupações sobre ataques ou interferências em sistemas de radar, incluindo drones submarinos.
Por outro lado, o secretário de Transportes, Sean Duffy, suspendeu ou retirou quase US$ 680 milhões em financiamentos federais destinados a projetos eólicos e melhorias portuárias, descrevendo esses empreendimentos como “projetos perdulários”. A medida afetou instalações já licenciadas, como o parque Vineyard Wind, em Martha’s Vineyard, que segue com obras suspensas.
Projetos eólicos suspensos e clima de incerteza
O governo dos Estados Unidos vem interrompendo projetos eólicos bilionários que estão em andamento, sem uma justificativa clara. A suspensão do parque Vineyard Wind, de US$ 4 bilhões, é um exemplo, após alegações de riscos à segurança nacional, incluindo supostas ameaças com radares e drones submarinos. Especialistas questionam essas acusações, destacando que estudos anteriores, incluindo relatórios do próprio Departamento de Interior, apontaram riscos ambientais e à saúde insignificantes relacionados às turbinas.
Alguns bolsonaristas, grupos conservadores ligados ao petróleo e gás, como a Texas Public Policy Foundation, também pressionam contra esses projetos, buscando sua revogação. Além disso, há resistência histórica à energia eólica, como foi o caso do projeto Cape Wind, em Cape Cod, que foi cancelado após anos de batalhas jurídicas e ambientais.
Impactos na Europa e cenário internacional
A instabilidade causada pelas ações do governo americano tem efeitos também na Europa, onde planos de parques offshore já estão sendo revistos ou suspensos, como o projeto Revolution Wind, na costa de Rhode Island, e o offshore de Maryland. Trump, em documentos judiciais, anunciou que pretende avaliar novamente permissões de projetos como o SouthCoast Wind, em Massachusetts, com decisão esperada até 18 de setembro. Enquanto isso, projetos com licenças, como Vineyard Wind e Sunrise Wind, continuam em andamento, a despeito do clima de incerteza.
Resposta da comunidade e justificativas oficiais
O governo justifica as suspensões alegando a necessidade de avaliação mais rigorosa, com o argumento de que determinados projetos podem beneficiar interesses de desenvolvedores e prejudicar fontes convencionais de energia, como carvão e gás natural. Michael Kelly, porta-voz da Casa Branca, afirmou que a ordem de revisão visa garantir que as políticas públicas sejam alinhadas à segurança nacional e ao ambiente.
No entanto, especialistas e estudiosos afirmam que as alegações de riscos ambientais e de segurança são exageradas ou infundadas. Estudos de 2023 do Departamento de Interior concluíram que os efeitos dos campos eletromagnéticos de cabos submarinos são insignificantes, enquanto que o Pentágono já avaliou e aprovou modificações para reduzir impactos em radares militares.
Para alguns analistas, a estratégia de Trump representa uma tentativa de ampliar o apoio de grupos conservadores e setores tradicionais de energia, ao mesmo tempo em que reforça uma narrativa contrária às fontes renováveis, sobretudo a eólica offshore, considerada por eles como uma ameaça à segurança nacional.
Mais informações podem ser acessadas na reportagem do O Globo.