O caso do guarda civil Francisco Fernando de Oliveira Castro, indiciado por feminicídio e homicídio, ganha novos desdobramentos com a finalização do inquérito policial que apura a morte da ex-mulher, Penélope Brito, e do vereador Thiciano Ribeiro. A delegada Nathália Figueiredo, do Núcleo de Feminicídio do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), revelou detalhes preocupantes sobre a dinâmica abusiva do relacionamento do casal, que agora lança uma sombra sobre a segurança e os direitos das mulheres na sociedade brasileira.
Comportamento abusivo confirmado
Após a conclusão do inquérito, a delegada Nathália Figueiredo confirmou que Penélope Brito, que era a comandante da Guarda Civil Municipal de Parnaíba, vivia sob uma relação de medo e controle. Amigos e familiares de Penélope relataram que ela se sentia constantemente perseguida por Francisco Fernando, situação que a levou a considerar a necessidade de acompanhamento psicológico devido à ansiedade provocada pelo ex-marido.
A pesquisadora também destacou que o agressor demonstrava um comportamento particularmente grosseiro em relação a Penélope, o que se agravava pelo fato dela ocupar um posto de comando na corporação em que ele também servia. “Ele se incomodava pelo fato de Penélope ocupar um posto de comando. Essa relação de abusividade foi evidente e corroborada por diversos relatos de pessoas próximas”, disse a delegada.
Indiciamento e crimes cometidos
Francisco Fernando foi indiciado por feminicídio majorado, homicídio qualificado — com motivo torpe, uso de meio cruel, perigo comum e impossibilidade de defesa das vítimas —, além de tentativa de homicídio qualificada do taxista Paulo César Lopes Pereira, que foi ferido durante o ataque que resultou nas mortes de Penélope e Thiciano. O crime ocorreu no Centro de Teresina, no dia 27 de agosto.
A situação é ainda mais alarmante, uma vez que, segundo a delegada, Penélope cogitou buscar medidas protetivas contra Francisco, mas decidiu não seguir adiante, pois soube que ele estava em outro relacionamento. Essa desistência pode ter sido motivada pela esperança de que a situação poderia melhorar, algo que é comum entre vítimas de relacionamentos abusivos.
Vazamento de depoimentos e campanhas de difamação
Outro aspecto importante que foi abordado na coletiva de imprensa da delegada foi o vazamento de depoimentos por redes sociais que tentavam colocar a culpa em Penélope. “Toda essa campanha de difamação que foi levada contra Penélope não foi comprovada em sede de investigação. A vítima jamais terá culpa de ter sido vítima. Por vezes, em uma relação, você não imagina que a pessoa poderia fazer isso”, afirmou Nathália Figueiredo.
Pessoas próximas às vítimas
Thiciano Ribeiro da Cruz, de 41 anos, era advogado e secretário de transportes e tinha sua trajetória política em ascensão como suplente do Partido Liberal (PL) em Parnaíba. Penélope, além de ser comandante da Guarda Civil, também atuou recentemente como secretária interina da Secretaria de Transporte, Trânsito e Articulação com as Forças de Segurança. Ela deixa um filho de apenas 5 anos, fruto de seu relacionamento com o ex-marido. Os eventos trágicos que culminaram na sua morte e na do vereador, que estava próximo a ela no momento do ataque, mobilizaram a sociedade, gerando uma série de homenagens e protestos pela defesa dos direitos das mulheres.
O caso agora segue para análise do Ministério Público do Piauí, que decidirá sobre a denúncia formal à Justiça. As investigações continuam, incluindo o exame da possibilidade de que o guarda civil fabricasse munições, o que poderia agravar ainda mais a gravidade das acusações.
Enquanto a comunidade de Parnaíba expressa sua indignação e busca justiça, a tragédia ressalta a urgência de ações robustas contra a violência de gênero no Brasil, visando a proteção das vítimas e a responsabilização adequada dos agressores.