A discussão sobre a adoção de carteiras de identidade digitais no Reino Unido volta à tona após exigências do presidente francês Emmanuel Macron. A ideia é parte de uma série de reformas que visam dificultar a vida de imigrantes ilegais no país. O líder do Partido Trabalhista, Sir Keir Starmer, afirmou que está aberto a explorar essa possibilidade como uma solução para a crescente crise de imigração, especialmente em resposta ao aumento significativo de travessias clandestinas pelo Canal da Mancha.
Contexto e pressões políticas
O governo britânico havia abandonado o conceito de carteiras de identidade digitais há cerca de 15 anos, preocupado com as consequências para as liberdades civis. No entanto, o pedido de Macron para que o Reino Unido endereçasse os “fatores de atração” que incentivam a imigração vem provocando uma reavaliação das políticas atuais. Fontes em Whitehall indicam que até mesmo o ex-primeiro-ministro Tony Blair estaria impulsionando a ideia nos bastidores, ressaltando a pressão sobre Starmer para demonstrar efetividade no combate à imigração ilegal.
Recentemente, Starmer discutiu a possibilidade da carteira digital com seu gabinete, reconhecendo a frustração pública sobre a alta taxa de atravessias ilegais e a presença de hotéis que acolhem solicitantes de asilo em diversas comunidades. O objetivo é acelerar a implementação de medidas que tornem o processo de identificação e verificação mais eficaz.
A proposta de carteiras de identidade digitais
Uma das opções consideradas é a exigência de que todos os solicitantes a empregos apresentem uma carteira de identidade digital, comprovando que têm permissão para viver e trabalhar no Reino Unido. Esse requisito poderia também ser expandido para aqueles que buscam se mudar, solicitar benefícios ou acessar serviços públicos.
A ideia não é nova; já em 2010, a administração de Blair havia tentado implementar um sistema de identidade digital, o qual foi rejeitado por um governo posterior, alegando preocupações com a privacidade e liberdade individual. Contudo, em um momento em que muitos cidadãos parecem mais dispostos a aceitar a necessidade de provar sua identidade online, o governo acha que é um momento propício para reconsiderar essa abordagem.
Comparações com outros países
A digitalização de identificações não é uma novidade global, e o Reino Unido está de olho em sistemas bem-sucedidos de outros países. Um dos exemplos é o modelo da Estônia, que oferece a todos os cidadãos um cartão de identidade digital que contém uma foto e número de identidade nacional. Em vez de se basear em uma variedade de documentos físicos, o sistema estoniano simplifica o processo de verificação de identidade, tornando-o mais seguro e eficiente.
Além das carteiras de identidade, os ministros britânicos estão considerando outras medidas, como intensificar os esforços para fechar e regulamentar os abrigos temporários de asilados e ajustar a aplicação da Convenção Europeia dos Direitos Humanos em questões de imigração.
Reações e futuros desdobramentos
A proposta de Starmer e sua receptividade à ideia de criar um sistema de identificações digitais não é isenta de controvérsias. Enquanto alguns políticos e grupos de direitos civis vêem isso como um avanço necessário para garantir a segurança e a integridade das fronteiras britânicas, outros alertam para o risco de violação de direitos individuais e liberdades públicas.
A Secretária do Interior, Yvette Cooper, defendeu a ideia de que não há alternativa viável à abordagem atual, reiterando a importância de estabelecer uma política de imigração coerente e eficaz, que, segundo ela, exigirá tempo e comprometimento. Enquanto isso, a oposição continua a criticar a abordagem do governo, alegando que há alternativas que poderiam ser aplicadas de forma mais rápida e eficaz.
Em última análise, a discussão sobre a identidade digital no Reino Unido será um tema central nas próximas eleições e nas políticas do governo, especialmente se a pressão para uma ação decisiva contra a imigração ilegal continuar a crescer.
