O segundo dia do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF) destacou-se pela imensidão das provas apresentadas pela Polícia Federal. Segundo o advogado Celso Vilardi, defensor de Bolsonaro, o total de dados relacionados ao general Mário Fernandes, autor do plano Punhal Verde Amarelo, que previa o assassinato de figuras públicas como Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes, chega a impressionantes 70 terabytes (TB). Esse volume de informação corresponde à impressionante quantidade de 35 milhões de livros digitais, considerando que cada e-book ocupa em média 2 megabytes (MB).
Questionamentos da defesa sobre a análise de provas
Durante a argumentação da defesa, Vilardi expressou a preocupação com a quantidade de material e o tempo insuficiente para sua análise. “Nós não conseguimos baixar os documentos durante o tempo”, afirmou, ressaltando a dificuldade de proceder com a defesa de seu cliente sem uma revisão adequada do conjunto probatório. A análise, segundo ele, era fundamental, já que as investigações apontam que Bolsonaro tinha “pleno conhecimento” sobre o plano golpista.
O advogado enfatizou que, apesar da vasta quantidade de informação, o conjunto das provas não havia sido adequadamente conhecido pela defesa em virtude do curto prazo dado pelo tribunal. “Eu não conheço a íntegra desse processo. O conjunto da prova, eu não conheço. São bilhões de documentos, em uma instrução de menos de 15 dias”, declarou Vilardi.
Contexto do julgamento
A defesa de Bolsonaro começou oficialmente na manhã do dia 3 de setembro, após a sustentação oral do advogado do general Augusto Heleno, Matheus Milanez. Vilardi aproveitou para contestar a validade das provas apresentadas contra seu cliente: “Não há provas que atrelem Bolsonaro ao 8/1”, referindo-se ao episódio do golpe. Além disso, ele desafiou a credibilidade do delator Mauro Cid, caracterizando-o como “não confiável”.
A estratégia de defesa também incluiu críticas à previsão de condenações severas baseadas em delações que consideram inverídicas ou infundadas. Vilardi argumentou que a condenação poderia ser desproporcional, uma vez que “uma cogitação de pena para além de 30 anos, baseada em um fato específico trazido por um delator, sem qualquer ato praticado, não é razoável”. Para sustentar isso, mencionou as palavras de um general que depôs: “Tivemos aquela conversa, e o presidente nunca mais tocou no assunto”.
Defesa de Bolsonaro e seus desdobramentos
A defesa prosseguiu com Paulo Bueno, outro advogado do ex-presidente, que reiterou a falta de intenção de Bolsonaro em perpetuar um golpe. “A absolvição do ex-presidente Bolsonaro é imperiosa”, afirmou Bueno. Para ele, o ex-presidente “não teve nenhum intuito em ir adiante com o projeto criminoso apontado na denúncia”, desqualificando assim as acusações e reforçando a ideia de que as teorias apresentadas contra ele são infundadas.
“Uma cogitação de pena para além de 30 anos, baseada em um fato específico trazido por um delator — uma reunião de chefes das Forças Armadas e um presidente da República, sem qualquer ato — não é razoável”, destacou.
Implicações e repercussões do julgamento
O julgamento tem atraído intensa atenção da mídia e do público, uma vez que relaciona diretamente o ex-presidente a um projeto considerado golpista, com implicações profundas para a democracia brasileira. O processo continua a provocar debates acalorados sobre a legalidade, a ética e a responsabilidade dos agentes políticos do país.
À medida que o julgamento avança, observadores e analistas políticos se questionam sobre as possíveis repercussões que ele poderá ter não apenas para Bolsonaro, mas também para o futuro da política brasileira. Uma decisão favorável ao ex-presidente pode reforçar sua base de apoio, enquanto uma condenação poderia marcar um divisor de águas na política do país.
Em meio a acusações graves e um volume imenso de provas, a expectativa agora se concentra na continuidade dos depoimentos e nas decisões que serão tomadas por parte do STF, crucial para definir os rumos da política brasileira nos próximos anos.
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