Nos primeiros cinco meses de 2024, Sorocaba (SP) registrou 88 partos de mães adolescentes, um número alarmante que se aproxima do total de 100 partos ocorridos durante todo o ano de 2023. Desde janeiro, as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da cidade acompanhavam mais de 1,2 mil jovens grávidas, revelando um cenário preocupante que demanda atenção.
Desafios enfrentados pelas gestantes adolescentes
Dentre os casos registrados, destaca-se o de Emilly Vitória Tristão da Silva, de apenas 16 anos, que, aos seis meses de gestação, batalha contra diabetes gestacional. “Minha gravidez é de risco e, nas últimas semanas, o quadro estava descompensado. Estou sendo monitorada de perto, desde que descobri”, relata a gestante sobre sua difícil jornada na maternidade precoce.
A ginecologista e obstetrícia Hariane Motta alerta para os riscos que as gestantes adolescentes enfrentam. Ela explica que a maturação do corpo feminino até os 20 anos não está completa, tornando as gestações nesse período extremamente arriscadas. “Essa idade aumenta significativamente o risco de mortalidade materna e infantil. Há uma propensão maior a desenvolver problemas como pressão alta, diabetes, anemia, entre outros. Isso resulta em altas taxas de morbidade e mortalidade para essas jovens”, afirma.
A situação alarmante em números
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa de mortalidade infantil entre filhos de mães adolescentes é de 15,3 mortes para cada mil nascidos vivos, um índice que supera a média nacional de 13,4 mortes por mil nascimentos. Essa estatística, juntamente com fatores socioeconômicos como ausência de amamentação, falta de apoio familiar e vulnerabilidade social, indicam uma crise que afeta diretamente as adolescentes e seus bebês.
As consequências da gravidez precoce não se restringem apenas à saúde física. A médica Motta destaca que essa realidade gera impactos emocionais e sociais significativos. “A gravidez na adolescência é uma questão de saúde pública, afetando fisicamente, emocionalmente e socialmente. As adolescentes frequentemente se sentem excluídas da sociedade e interrompem a continuidade de seus estudos”, ressalta.
A importância da educação sexual
Diante deste cenário, a médica enfatiza a relevância de discutir métodos contraceptivos entre os jovens. “Essa conversa deve começar dentro de casa, mas também é responsabilidade das escolas e das políticas públicas. Precisamos promover a educação sexual e o acesso a métodos contraceptivos de forma proativa, em vez de esperar que os jovens procurem por nós”, enfatiza Hariane Motta.
Pamela Sales, que engravidou aos 16 anos, vivenciou de perto as dificuldades que a maternidade precoce pode trazer. Hoje, aos 21 anos e mãe solo, ela compartilha que o caminho de volta ao mercado de trabalho foi desafiador. “O psicológico fica muito abalado. É um período difícil, mas também traz amadurecimento e novas descobertas”, revela.
A experiência de Pamela destaca um aspecto positivo: “Ter tido meu filho foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Isso trouxe um crescimento pessoal que eu nunca imaginei que seria possível”, compartilha, refletindo sobre as nuances da maternidade na adolescência.
Caminhos para um futuro melhor
É evidente que a gravidez na adolescência é um tema delicado que requer um olhar atento das autoridades, famílias e escolas. O aumento da conscientização, educação sexual abordando questões de contracepção e o suporte à saúde mental das adolescentes serão cruciais para mitigar esse problema que afeta não só as jovens mães, mas toda a sociedade.
Com as taxas de gravidez na adolescência em ascensão, é fundamental que as comunidades e políticas públicas se unam para oferecer suporte e recursos adequados a essas jovens, para que possam ter escolhas melhores e buscar um futuro mais promissor.
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