No último domingo (31), um incêndio devastador em uma clínica de recuperação irregular situada no Paranoá, Distrito Federal, resultou na morte de cinco pessoas e deixou outras 11 feridas. O Instituto Terapêutico Liberta-se, que prometia tratamento a dependentes químicos, agora enfrenta investigações severas sobre suas práticas e segurança.
Rotina e abusos na clínica
Com mensalidades que variavam entre R$ 600 e R$ 1.300, os pacientes do Instituto Terapêutico Liberta-se eram submetidos a uma rotina rigorosa que incluía tarefas domésticas, debates sobre dependência química e “sonoterapia”. Essa abordagem, no entanto, levantou dúvidas sobre a ética e a eficácia do tratamento oferecido.
Relatos de ex-internos e suas famílias indicam que os contratos frequentemente eram firmados contra a vontade dos pacientes. Para aqueles que não podiam pagar, havia a opção de permanecer no local em troca de trabalho, mas as condições de vida eram severas e, em muitos casos, os pacientes eram mantidos em regimes de castigo.
Desumanização e controle
Os internos relatam experiências traumáticas, como períodos de isolamento e agressões. Aqueles considerados “novatos” ou “rebeldes” eram frequentemente trancados à noite para prevenir fugas. O clima de opressão se agravava com a falta de profissionais de saúde no local, comprometendo ainda mais a qualidade do tratamento prometido.
Falta de supervisão médica
A clínica, que deveria contar com médicos e psiquiatras, estava operando praticamente sem supervisão médica. A investigação liderada pela Polícia Civil revelou que muitos pacientes sequer tiveram acesso a um atendimento básico durante sua estadia. Segundo o delegado Hugo Maldonado, a ausência de um médico responsável no espaço pode resultar em graves consequências legais para os proprietários do instituto.
O incêndio e suas consequências
O incêndio começou durante a madrugada, quando cerca de 20 internos estavam dentro da sede do instituto. Infelizmente, cinco homens perderam a vida, seus corpos sendo encontrados em meio às chamas. A estrutura da clínica, com grades nas portas e janelas, dificultou a evacuação dos internos, gerando críticas sobre as condições de segurança do local.
Além das fatalidades, outras 11 pessoas conseguiram escapar, mas com ferimentos significativos, sendo encaminhadas a hospitais da região. A tragédia chamou a atenção das autoridades locais, que estão investigando não apenas o incêndio, mas também as práticas abusivas evidenciadas por internas e ex-internas.
Reação da clínica
Em uma declaração pública, a direção do Instituto Terapêutico Liberta-se expressou sua tristeza pela tragédia e afirmou estar colaborando com as investigações. O instituto se comprometeu a buscar transparência nas circunstâncias que levaram ao incêndio, embora a credibilidade de sua administração esteja em questão.
Futuro incerto para dependentes químicos
A situação do Instituto Liberta-se levanta uma questão importante sobre a regulamentação de clínicas de recuperação no Brasil. Uma supervisão mais rígida e investimento em modelos alternativos de tratamento poderiam evitar tragédias como esta no futuro. Com as evidências de maus-tratos e negligência médica, o cuidado e o bem-estar dos dependentes químicos precisam ser priorizados.
Enquanto isso, a morte de cinco pessoas durante essa tragédia é um lembrete sombrio e urgente da necessidade de práticas mais seguras e efetivas para enfrentar a dependência química e proteger aqueles que lutam contra ela. O caso deve servir de alerta para que órgãos governamentais reavaliem suas políticas de saúde pública relacionadas ao tratamento de dependentes químicos.
À medida que os desdobramentos do caso continuam, as vozes das vítimas e seus familiares se tornam cada vez mais essenciais em busca de justiça e melhorias nas condições de tratamento.