Nesta quarta-feira (3), em Washington, D.C., representantes de empresas e associações brasileiras participaram de uma audiência pública no Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR). O evento faz parte da investigação aberta pelo governo americano, que questiona possíveis práticas comerciais “desleais” do Brasil em setores como pagamentos eletrônicos, desmatamento e propriedade intelectual. Esta audiência é um momento crucial para os empresários brasileiros, que buscam defender seus interesses e contestar as alegações feitas pelos EUA.
Contexto da investigação norte-americana
A investigação que resultou nesta audiência foi anunciada em 15 de julho e tem gerado preocupação entre os empresários brasileiros. A análise das práticas comerciais do Brasil abrange vários aspectos, incluindo o sistema de pagamentos conhecido como Pix, questões de desmatamento ilegal, a proteção da propriedade intelectual e o mercado de etanol. Esta investigação, conduzida sob a Seção 301 da Lei Comercial dos Estados Unidos, permite ao governo americano investigar alegações de violações de normas comerciais por países estrangeiros.
O embaixador Roberto Azevêdo, consultor da Confederação Nacional da Indústria (CNI), destacou durante a audiência que não existem evidências fundamentadas que sustentem a afirmação de que as políticas brasileiras prejudicam as empresas americanas. “Ao contrário, os fatos mostram que as empresas americanas, em geral, se beneficiaram das políticas brasileiras”, afirmou Azevêdo, reforçando a posição da CNI sobre os impactos positivos das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos.
Resposta do setor agropecuário
O setor agropecuário brasileiro não ficou de fora das discussões. Sueme Mori, diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), afirmou que a entidade rejeita qualquer acusação que sugira que os produtos brasileiros dependem de práticas inadequadas para entrar no mercado norte-americano. Mori enfatizou que as alegações norte-americanas são infundadas e que a agricultura brasileira opera dentro de padrões elevados de qualidade e sustentabilidade.
Importância da cafeicultura no comércio
No segmento da cafeicultura, Marcos Antonio Matos, diretor do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), ressaltou que o café brasileiro representa mais de 30% do mercado da bebida nos Estados Unidos. Ele destacou que o produto está entre os itens afetados por tarifas de 50% impostas pelo governo de Donald Trump, como parte da estratégia comercial adotada nas recentes negociações entre os países. Matos reforçou que as tarifas podem impactar negativamente a exportação e a competitividade do café brasileiro no mercado americano.
Missão empresarial em território norte-americano
A audiência pública fez parte de uma missão empresarial que reúne cerca de 130 empresários e representantes de diversas associações industriais brasileiras. A missão, liderada pela CNI, tem como objetivo discutir as tarifas impostas pelo governo dos EUA e explorar estratégias para fortalecer os laços comerciais. A agenda da missão inclui reuniões com empresários e autoridades norte-americanas, além de encontros bilaterais que visam abordar as preocupações dos setores representados.
Na comitiva, estão presentes associações como Abimaq (máquinas e equipamentos), Abrinq (brinquedos), Abal (alumínio), Abiec (carnes), e Cecafé (café), entre outras. A agenda da missão se estenderá até quinta-feira (4/9) e inclui o Diálogo Empresarial Brasil-EUA, evento que reforçará o diálogo entre os dois países.
Críticas às alegações dos EUA
As críticas ao governo americano não se resumem apenas à questão das tarifas. O governo dos Estados Unidos também alega que o Brasil criou um ambiente desfavorável para empresas de tecnologia, especialmente no que diz respeito ao comércio digital e aos serviços de pagamento eletrônico. As alegações incluem a referência ao sistema Pix, indicando práticas desleais para com empresas de tecnologia dos EUA. Além disso, os EUA questionam o combate à corrupção e a proteção de direitos de propriedade intelectual no Brasil, apontando para uma possível desvantagem para empresas americanas.
Diante dessas alegações, o governo brasileiro, sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enviou uma carta ao USTR no dia 18 de agosto, contestando a legitimidade da investigação e afirmando que a base legal utilizada pelos EUA não se aplica ao Brasil.
Segundo o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, a investigação é baseada em legislação que o Brasil não reconhece. Essa posição do Brasil ilustra a determinação do governo em se opor às acusações e a buscar um diálogo construtivo que beneficie ambos os países.
O desdobramento dessa audiência e os próximos passos da missão empresarial poderão impactar de forma significativa as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos nos próximos meses, refletindo tanto a necessidade de defesa dos interesses nacionais quanto a busca por soluções que promovam um comércio mais equitativo.