A Guiana, um pequeno Estado situado ao lado do Brasil e da Venezuela, vive um momento decisivo com as eleições para a presidência da república, o parlamento e os conselhos regionais. Os novos eleitos enfrentarão desafios significativos, como a exploração de petróleo bruto, a pobreza que afeta grande parte da população e a complexa disputa territorial com a Venezuela.
Pietro Piga – Cidade do Vaticano
O país está prestes a conhecer seu 11º Presidente da República. As urnas se fecharam na segunda-feira (1º de setembro) e os resultados devem ser divulgados amanhã (quinta-feira). O atual presidente, Mohamed Irfaan Ali, do Partido Progressista do Povo/Cívico (PPP/C), é considerado o favorito para um novo mandato de cinco anos. Seu principal concorrente é Aubrey Norton, da oposição, que lidera a Aliança para a Unidade Nacional (APNU). Uma possível surpresa pode vir de Azruddin Mohamed, que tenta romper o bipartidarismo com seu movimento, Nós Invistimos na Nação (WIN). Para garantir que o processo eleitoral seja transparente, a Comissão Eleitoral assegurou que é a única autoridade para fornecer os resultados, prometendo agir “o mais rápido possível”, com a Monitoração da União Europeia também observando o processo.
Os temas da disputa
Durante a campanha, os partidos debateram dois temas principais. O contrato com a ExxonMobil, uma das principais petroleiras dos EUA, foi um ponto de discussão crucial. Nos últimos dez anos, a empresa descobriu grandes jazidas de petróleo no país, resultando em uma produção diária de 900 mil barris, que deve ultrapassar um milhão até 2030. Desde 2019, a economia da Guiana é uma das que mais cresce no mundo, com um aumento de 43,6% no Produto Interno Bruto (PIB) no último ano, segundo o Banco Mundial. Atualmente, o PIB do país é estimado em 26 bilhões de dólares, cinco vezes mais do que em 2019.
Entretanto, essa nova riqueza contrasta com o alarmante índice de pobreza que ainda aflige a população. Durante as eleições, o tópico da pobreza foi amplamente debatido, uma vez que quase metade (48%) dos 830 mil habitantes da Guiana vivia com menos de 5 dólares por dia em 2019. A população é majoritariamente jovem e 95% do território é coberto por florestas tropicais, o que ressalta o potencial de recursos naturais ainda não explorados e que poderiam contribuir para a melhoria da qualidade de vida.
Tensões geopolíticas e futuro incerto
As tensões com a Venezuela também desempenham um papel crucial nessas eleições. O território de Essequibo, reivindicado por ambos os países, corresponde a dois terços da área terrestre da Guiana. A fronteira terrestre com a Venezuela, localizada a oeste, é a segunda maior do país, logo atrás da fronteira com o Brasil. Essa região, que se estende entre o rio Essequibo e a divisa com a Venezuela, abriga grupos indígenas e é rica em recursos naturais, florestais e agrícolas.
Para resolver essa disputa, que também envolve questões marítimas, Georgetown recorreu ao Tribunal Internacional de Haia. As hostilidades entre os dois países se intensificaram nas vésperas da votação, quando uma embarcação com funcionários eleitorais foi alvo de tiros provenientes da margem venezuelana. O incidente resultou em trocas de acusações e aumentou as preocupações sobre a segurança e a estabilidade na região. Este tema será um dos muitos desafios que o 11º Presidente da República Cooperativa da Guiana terá que enfrentar, à medida que a nação busca um equilíbrio entre a exploração de seus novos recursos e o bem-estar de sua população.
A Guiana está, portanto, em uma encruzilhada, onde as promessas de riqueza devido às reservas de petróleo devem ser equilibradas com a luta contra a pobreza e as tensões com o país vizinho, a Venezuela. O próximo presidente terá a árdua tarefa de lidar com essas questões complexas, fundamentais para o futuro do país e de seu povo.
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