As investigações sobre supostos desvios de recursos públicos no governo do Tocantins revelaram a participação do governador do estado, Wanderlei Barbosa (Republicanos), e de sua esposa, Karynne Sotero Campos. De acordo com a Polícia Federal (PF), a primeira-dama ocupou uma “posição de destaque” em um esquema criminoso que desviou verbas destinadas a cestas básicas, essenciais para o amparo à população carente durante a pandemia. As evidências apontam que Paulo César Lustosa, ex-marido de Karynne, atuou como intermediário da operação.
Como funcionava o esquema?
Conforme relatado pela PF, houve um “esquema sistemático” na Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas) que permitiu o desvio de recursos públicos. Wanderlei Barbosa, enquanto vice-governador, havia recebido a atribuição política da pasta em um arranjo político-partidário. Entre 2020 e 2021, uma significativa parte da verba destinada ao enfrentamento da pandemia foi destinada a essa secretaria, recebendo recursos de diversas fontes, incluindo emendas parlamentares que supostamente deveriam ser usadas na compra de cestas básicas.
As investigações indicam que em troca dos repasses, os deputados que apoiaram a liberação dos recursos receberam vantagens indevidas. Mensagens obtidas no celular de Paulo César Lustosa revelam a “intensa participação” de Karynne nos desvios, comprometendo verbas que deveriam beneficiar a população mais vulnerável do estado.
Denúncias e evidências do esquema
Segundo a PF, o Instituto de Desenvolvimento e Gestão Social, Esportiva e Cultural (IDEGESESC), posteriormente renomeado como Instituto de Desenvolvimento Educacional, Social e da Saúde (IDESS), estava “umbilicalmente ligado” à primeira-dama desde sua fundação. Karynne atuou como presidente da entidade entre janeiro de 2013 e outubro de 2019, mas continua a ter controle sobre a organização, conforme mostram as conversas obtidas durante as investigações.
Em dezembro de 2021, o IDEGESESC estabeleceu um Termo de Colaboração com a Setas para fornecimento de cestas básicas, alinhado a uma emenda de uma deputada estadual. No entanto, evidências indicam que o instituto não produziu as cestas básicas e utilizou unidades emprestadas para enganar a fiscalização, registrando uma entrega que nunca ocorreu. Diálogos entre Lustosa e seu irmão revelam detalhes do plano para ludibriar a fiscalização.
A resposta do governador
Após ser afastado do cargo, Wanderlei Barbosa se manifestou afirmando que a decisão foi “precipitada” e que a investigação não comprova sua responsabilidade. Ele anunciou que tomaria medidas judiciais para retomar sua posição. A Polícia Federal, no entanto, mantém que as evidências coletadas até o momento são contundentes e mostram a participação direta de Karynne e movimentações financeiras irregulares.
Implicações e próximos passos
À medida que as investigações avançam, a PF destaca que existem indícios de cooperação entre Karynne e outros parlamentares que facilitaram a migração de emendas para o IDEGESESC em 2022, principalmente durante a gestão dela na Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. A cronologia dos eventos e o modus operandi correspondem a um padrão de pagamentos antecipados, onde a entrega dos materiais apenas ocorreria posteriormente, sugerindo uma prática recorrente de desvio de verbas públicas.
A continuidade das investigações poderá revelar mais detalhes sobre a profundidade do esquema e envolver outros membros da administração pública no Tocantins, evidenciando a necessidade de um rigoroso exame dos processos de fiscalização e transparência na gestão de recursos públicos.
A sociedade aguarda que a justiça tome as providências necessárias para responsabilizar os envolvidos e garantir que recursos destinados a ajudar a população vulnerável sejam utilizados de forma correta e efetiva.
