O segundo dia do julgamento sobre a tentativa de golpe no Supremo Tribunal Federal (STF) destacou defesas mais técnicas e assertivas. Os advogados, especialmente do general Walter Braga Netto, concentraram seus esforços em atacar a credibilidade de Mauro Cid e sua delação premiada, buscando deslegitimar a acusação mais severa contra Braga Netto: a entrega de dinheiro para a execução do chamado plano Punhal Verde Amarelo.
As estratégias de defesa
O defensor de Walter Braga Netto, José Luis de Oliveira Lima, conhecido como Juca, dedicou a maior parte de sua argumentação a minar as declarações de Mauro Cid. Para ele, isso era crucial, uma vez que as acusações contra o general são graves e envolvem a suposição de que ele colaborou financeiramente com um plano golpista. Já os advogados de Jair Bolsonaro contestaram a ideia de que o ex-presidente tentou perpetrar um golpe, enfatizando sua suposta disposição em colaborar com a transição do governo.
Bolsonaro e a transição de governo
A defesa de Bolsonaro argumentou que, embora o ex-presidente não tenha permanecido no Brasil para a entrega da faixa presidencial, isso não implica uma tentativa de impedimento do novo governo. Além disso, o ex-mandatário, que se nega a reconhecer a derrota eleitoral, é visto por seus defensores como alguém que simplesmente buscou evitar a radicalização dos ânimos.
Desafios enfrentados pelas defesas
A defesa do general Paulo Sérgio Nogueira, por meio do advogado Andrew Fernandes Faria, trouxe complicações adicionais, pois tentou mostrar que seu cliente estava, na verdade, se opondo a medidas extremistas, algo que foi questionado pela ministra Cármen Lúcia durante o julgamento. Ela, em um momento perspicaz, indagou sobre o significado do termo “demover”, insistindo em entender a que medidas específicas o advogado se referia.
Possível falta de provas
Um dos pontos centrais levantados pelas defesas foi a alegação de que não havia provas conclusivas ligando Bolsonaro aos eventos de 8 de janeiro. O advogado de Bolsonaro insinuou que seu cliente havia sido “dragado para esses fatos”, sugerindo que ele não estava diretamente envolvido nas ações que caracterizam a tentativa de golpe. Este tipo de argumentação gera um debate sobre a responsabilidade coletiva dos réus e suas implicações legais.
Volume documental e dificuldades
Durante o processo, houve reclamações acerca do volume excessivo de documentos enviados pela Polícia Federal. Isso gerou uma preocupação entre os advogados, que relataram ter apenas uma quantidade limitada de tempo para analisá-los. As estimativas de dados foram alarmantes, variando de 20 a quase 80 terabytes, um volume considerável que dificultou a análise das evidências.
Comparações entre os dias de julgamento
O primeiro dia do julgamento foi caracterizado por defesas que não convenceram, sendo a atuação de alguns advogados considerada fraca. Um exemplo notável foi a defesa do almirante Almir Garnier, que se desviou do foco ao discutir questões irrelevantes em vez de abordar a acusação principal, que envolvia a disponibilização das tropas da Marinha para o golpe.
A grande questão da organização criminosa
Apesar das defesas apresentadas durante os dois dias de julgamento, ficou evidente que a trama golpista não foi desmentida de maneira convincente. Cada advogado se esforçou para proteger seu cliente, mesmo que isso implicasse implicações ao conjunto dos réus. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, reiterou que, embora nem todos os réus tenham participado diretamente de todos os eventos, eles formaram juntos uma organização criminosa que tentou um golpe de Estado no Brasil.
Esses dois dias de julgamento deixaram claro que, apesar das tentativas de desqualificação das acusações, a trama de um golpe orquestrado por altos escalões dentro do governo anterior continua sendo um tema central e preocupante para a sociedade brasileira.
