O projeto de lei do Ministério da Fazenda que propõe o Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) mínimo, em tramitação na Câmara, deve beneficiar cerca de 141 mil contribuintes de alta renda, mas apenas um quarto deles efetivamente atingirá o teto de tributação sobre lucros. Além disso, uma minoria, de aproximadamente 2,5%, já paga o máximo de impostos tanto na pessoa física quanto na jurídica, segundo estudo do economista Sérgio Gobetti.
Quem será atingido pelo IRPF mínimo?
De acordo com o levantamento, cerca de 37,5 mil contribuintes, ou 26,5% dos impactados, terão a tributação sobre lucros limitada a um teto global, que inclui também o IRPJ, imposto sobre o lucro das empresas. O restante, que representa 73,5%, recebe dividendos de empresas que já pagam uma alíquota efetiva inferior a 24% no IRPJ, ou seja, estão pagando menos impostos por esse tipo de rendimento.
Contexto e argumentos do projeto
O projeto prevê um teto global para tributação de lucros, considerando tanto o IR de pessoa física quanto o IRPJ. No Brasil, o lucro das empresas é tributado atualmente com uma alíquota nominal de 34%, somada à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). No entanto, Gobetti destaca que a alíquota efetiva praticada hoje fica entre 16% e 18%, devido a regimes especiais, benefícios fiscais e uma complexidade de regras que reduzem a carga tributária efetiva.
“A alíquota de 34% (no IRPJ e na CSLL) é uma ficção, uma alíquota para inglês ver”, afirmou Gobetti. Ele reforça que a maioria dos contribuintes de alta renda paga uma carga menor do que a suposta alíquota nominal e que a taxação de lucros no país não é excessiva.
Impacto sobre os contribuintes de alta renda
O estudo aponta que o número de beneficiados pelo teto global, que soma o IRPF e o IRPJ, indica que 73,5% das pessoas físicas que recebem dividendos de empresas pagam uma alíquota efetiva inferior a 24%. “Quem paga menos do que 24% não terá qualquer benefício do teto, pois já paga menos”, explicou Gobetti. Segundo ele, essa realidade reflete um sistema em que a maioria dos lucros já é tributada de forma relativamente baixa.
Dados internacionais e carga tributária brasileira
Estudos internacionais apoiam essa visão. Uma pesquisa liderada pelo economista francês Gabriel Zucman, com colaboração da Receita Federal, estima que os brasileiros com rendimento superior a US$ 1 milhão pagam, em média, uma carga tributária total de 20,6%, incluindo impostos sobre patrimônio, consumo e previdência. Já a média da população brasileira como um todo é de 42,5% de carga tributária sobre a renda.
Repercussões e críticas
O estudo de Gobetti contraria argumentos de que o sistema tributário brasileiro seja excessivamente pesado sobre os lucros, já que a maioria dos contribuintes de alta renda paga uma carga menor do que a alíquota nominal de 34% aplicada às empresas. Ele também observa que o impacto do teto de tributação será limitado, atingindo principalmente os mais ricos que já pagam altos impostos na pessoa jurídica.
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