O preço do ouro atingiu um novo recorde histórico, superando os US$3.500 por onça, conforme investidores buscam ativos que ofereçam segurança em meio a incertezas inflacionárias e geopolíticas. Essa valorização expressiva, que representa quase o dobro do preço em janeiro de 2023, reflete uma mudança na percepção dos mercados, especialmente com a recente fraqueza do dólar americano e a crescente preferência de bancos centrais por manter reservas em ouro em vez de títulos do tesouro dos EUA.
O impacto do aumento do ouro no mercado
A alta do ouro se intensificou nas últimas semanas, acompanhada pela queda do dólar, o que gerou um ciclo de valorização do metal precioso. Segundo analistas, essa procura crescente por ouro se deve também ao aumento das taxas de juros de longo prazo na Europa, onde os títulos do governo britânico, francês e alemão atingiram níveis máximos de vários anos. No Reino Unido, por exemplo, os rendimentos dos títulos de 30 anos atingiram seu maior índice em 27 anos, colocando pressão sobre a chanceler Rachel Reeves antes do orçamento de outono.
Além disso, a libra esterlina sofreu desvalorização de 1,2% em relação ao dólar, o que representa a maior queda diária desde abril de 2023, um período de instabilidade de mercado causado por anúncios de tarifas pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, contra parceiros comerciais.
Os mercados de ações e as expectativas econômicas
Os índices do mercado de ações no Reino Unido e na Europa experimentaram uma queda significativa, com o FTSE 100 recuando 0,7% e se afastando do recorde intradiário atingido no mês anterior. Similarmente, os mercados dos EUA também se juntaram ao movimento de venda, marcando um sinal de cautela entre investidores que temem deterioração nas condições econômicas globais.
Mark Haefele, o diretor de investimentos da UBS Global Wealth Management, destacou que os riscos políticos e geopolíticos crescentes são fundamentais para a atração do ouro, que geralmente se beneficia de momentos de incerteza. Ele projeta que o preço do ouro pode alcançar os US$3.700 por onça até junho do próximo ano, e não descarta a possibilidade de atingir a marca de US$4.000 caso a situação econômica piore.
Cenário global e bancos centrais
Os bancos centrais, particularmente os de países como Índia, China, Turquia e Polônia, têm aumentado suas reservas de ouro. O metal precioso superou o euro no ano passado, tornando-se o segundo maior ativo de reserva global, atrás apenas do dólar americano. O relatório do Banco Central Europeu, publicado em junho, indica que a participação dos títulos do tesouro dos EUA nas reservas de bancos centrais estrangeiros tem diminuído ao longo da última década, mas a migração para o ouro se acelerou em 2023 devido a preocupações com a dívida dos EUA, rebaixamentos de crédito, tensões comerciais e riscos geopolíticos.
O interesse dos fundos de pensão indianos em investir em fundos de índice de ouro (ETFs) sinaliza uma demanda forte, mesmo com os preços recordes. Ouro e prata, ambos em alta, têm mostrado um potencial significativo para valorização futura, com a analista Ipek Ozkardeskaya observando que o rácio entre o ouro e a prata ainda se encontra acima da faixa histórica, sugerindo que a prata pode ter um maior potencial de crescimento no longo prazo.
À medida que a situação global se torna mais complexa e incerta, o ouro continua a brilhar como um porto seguro, atraindo cada vez mais atenção e investimentos. Assim, os próximos meses serão cruciais para verificar até onde essa valorização pode chegar e como as economias globais responderão a essa nova dinâmica.