O Brasil se despediu de um dos seus maiores jornalistas na madrugada desta terça-feira, 2 de setembro, com a morte de Mino Carta. Em um tributo emocionado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou Carta como “o melhor jornalista” que o país já teve. O velório aconteceu no Cemitério São Paulo, em Pinheiros, onde personalidades do mundo da imprensa e amigos se reuniram para prestar suas homenagens.
Reconhecimento e agradecimento
Após comparecer ao velório, Lula fez questão de ressaltar a importância de Mino Carta para a história do jornalismo brasileiro. “É importante que a juventude saiba, se tem uma coisa que o Mino Carta é, é que ele é inegavelmente o melhor jornalista brasileiro de todo o século 20 e do começo do século 21”, afirmou o presidente. Lula destacou a relevância de Carvalho na cobertura noticiosa do país e enumerou os veículos que ele ajudou a fundar, como as revistas Veja e Carta Capital.
A primeira vez que Lula apareceu na capa de uma revista foi em 1978, na IstoÉ, em uma matéria que destacou “Lula e os Trabalhadores do Brasil”. O presidente lembrou com gratidão dessa capa que o trouxe para o centro do cenário jornalístico brasileiro. “Foi gentileza do Mino Carta ter a disposição, em um momento importante do recomeço da luta dos trabalhadores, em fazer uma capa que me ajudou”, disse Lula.
Indignação e princípios
No velório, o jornalista Juca Kfouri também prestou sua homenagem, lembrando das características marcantes de Mino Carta, como sua permanente indignação e paixão. “Mino Carta era fundamentalmente uma pessoa permanentemente indignada. Às vezes, exageradamente indignada. Não tinha meio-termo com o Mino”, afirmou Kfouri, ressaltando que ele “jamais se omitiu” e “jamais se submeteu”, mesmo em tempos difíceis. Para Juca, não se pode escrever a história da imprensa brasileira sem dedicar um capítulo especial a Mino Carta.
Família e convicções
A filha de Mino, Manuela Carta, foi outra presença marcante no velório e compartilhou suas memórias do pai. Ele era conhecido por sua personalidade rígida e convicções inabaláveis, o que resultava em algumas discussões acaloradas com a família. “Eu briguei com ele inúmeras vezes. Pai, vamos poupar isso aqui, vamos maneirar aquilo ali. Nossa, dava barraco feio, todo mundo achava que aquilo não era uma redação, era uma trattoria”, lembrou Manuela, entre risos. Ela reconheceu que seu pai não conseguiu ver o Brasil da forma como ele imaginava, refletindo sobre as frustrações que ele sentiu ao longo da vida.
“Acho que aquilo que ele pensou que daria certo não deu como ele achava que podia ter dado. Ele tinha problemas com a elite e com o próprio Lula, eventualmente. Lula, que é amigo dele, que se gostam muito, mas ele era um crítico de muitas coisas do próprio governo Lula”, acrescentou Manuela.
Mino Carta deixa um legado inigualável e será lembrado não apenas por suas contribuições ao jornalismo, mas por sua intransigência em defender suas convicções. Sua obra e sua vida são um testemunho do poder da mídia na formação da opinião pública e na luta por justiça social no Brasil.
*Colaborou Wagner Júnior, da TV Brasil