O Ministério Público de São Paulo (MPSP) protocolou uma ação cautelar criminal que pede o afastamento temporário dos ex-presidentes do Corinthians Andrés Sanchez e Duílio Monteiro Alves de cargos no conselho deliberativo e conselho de orientação do clube alvinegro. Augusto Melo, que já foi expulso do quadro de conselheiros, também foi incluído no pedido.
Apresentada no dia 21 de agosto, a medida é assinada pelo promotor Cássio Roberto Conserino e cita indícios de uso irregular de cartões corporativos do Sport Club Corinthians Paulista, além do sistema de reembolso, no período entre 2018 e maio de 2025. A investigação inclui também outros possíveis desvios de recursos.
O promotor Cássio alertou para a possibilidade de que o trio poderia ocultar ou atrapalhar a obtenção de provas, além de influenciar na votação para a eleição do novo presidente do clube, que ocorreu no último dia 25.
“A suspensão cautelar do exercício de atividade econômica e financeira encontra previsão no artigo 319, VI, do CPP e autoriza a aplicação por analogia do afastamento da participação do Conselho Deliberativo e do Conselho de Orientação e, consequentemente, do direito do voto nos colegiados quando este pode se revelar meio direto de obstrução da investigação com a possibilidade de manutenção do mesmo grupo político que fez vistas grossas para os possíveis desmandos e desvios durante anos”, cita Conserino em trecho do documento obtido pela reportagem do Portal iG.
A promotoria também fez referências à Lei Geral do Esporte (14.597/23) e à Lei Pelé (9.615/98), que preveem inelegibilidade por até dez anos em casos de gestão fraudulenta ou temerária.
Até o momento da publicação desta reportagem, não havia decisão sobre a medida cautelar. A Justiça de São Paulo deve decidir nos próximos dias se acolhe ou não o pedido de afastamento cautelar dos ex-mandatários.
Investigação sobre empresa de fachada
Um dos casos apontados no documento menciona a empresa “Oliveira Minimercado/Oliveira Eventos & Buffet”, suspeita de ser uma empresa de fachada, que, na verdade, não existe. Com o recorte apenas olhando para outubro de 2023, durante a gestão de Duílio Monteiro Alves, foram identificadas despesas superiores a R$ 86 mil, sendo mais de R$ 32 mil em serviços de buffet em endereço onde nunca funcionou tal atividade.
Além de suspeitas de apropriação indébita, estelionato, falsidade ideológica e associação criminosa, o MP investiga também a possível lavagem de dinheiro.
Depoimentos de dirigentes e conselheiros, como Romeu Tuma Júnior, reforçaram a ausência de controle sobre gastos e relataram até ameaças ligadas ao ambiente político do clube.
“Assim, há fortes elementos que nos indicam que os investigados poderão utilizar o prestígio político para obstar a apuração dos fatos, além do risco concreto de que se valham do poder do voto para influenciar seu grupo político e o resultado das eleições e, indiretamente, garantir a continuidade de eventuais práticas ilícitas. Não é demasiado dizer que dentro do SCCP poderão intimidar ou amedrontar ou até mesmo ameaçar, conforme segue abaixo, pessoas que detêm o poder de responder as requisições do Ministério Público…”, diz o promotor.
Reações dos ex-presidentes
Por meio de nota, dois dos três ex-mandatários do Corinthians se pronunciaram sobre o caso. A reportagem do Portal iG tenta contato com a defesa de Duílio Monteiro Alves e atualizará a publicação em caso de resposta.
Andrés Sanchez afirmou, por meio de sua defesa conduzida pelo advogado Fernando José da Costa, que a sua atuação à frente do Corinthians se pautou pela legalidade, responsabilidade e compromisso institucional.
A defesa ressalta que o pedido de afastamento não representa juízo de culpa, tratando-se apenas de providência de natureza processual. Por essa razão, Andrés manifesta sua plena confiança na Justiça e na condução imparcial das investigações.
O ex-presidente deixou claro que permanece disponível para prestar todos os esclarecimentos necessários e apresentar documentos que comprovem a regularidade de sua gestão.
Augusto Melo, por sua vez, destacou que não teme qualquer investigação e que sua conduta sempre foi pautada pela transparência, afirmando que não fez uso de seu cartão corporativo durante sua gestão.
“Acreditamos que a apuração reforçará minha idoneidade e demonstrará que sempre agi com zelo e probidade na administração do clube”, disse Augusto.
Com desdobramentos esperados para os próximos dias, a situação continua gerando grande repercussão entre os torcedores e sectores administrativos do Corinthians.