A congregação dos Legionários de Cristo confirmou à ACI Prensa que estava ciente da produção de uma nova série da HBO sobre Marcial Maciel, fundador da ordem, e que colaborou com entrevistas para esclarecer o passado e apresentar as mudanças recentes na instituição. A série, lançada em 2025, reabre debates sobre os escândalos de abuso sexual envolvendo Maciel, que liderou a congregação por décadas com uma imagem de liderança carismática.
Participação da congregação na produção da HBO
“Sim, estamos cientes da produção”, afirmou a congregação. “No final de 2022, recebemos uma solicitação de entrevista dos produtores do documentário. O projeto, segundo eles, abordaria fatos já conhecidos publicamente – relatos de vítimas, ex-membros, especialistas e investigações da congregação e da Santa Sé”, detalharam a ACI Prensa.
Destacaram que Father Andreas Schöggl, atual arquivista da congregação e ex-secretário-geral, foi o único a conceder entrevista devido ao seu amplo conhecimento da história da Legion e capacidade de explicá-la de forma transparente. Os Legionários enfatizaram que a aceitação da entrevista não implicou colaboração na produção ou influência sobre o conteúdo final, e que responderam com transparência e abertura.
A congregação mantém uma seção específica na página oficial dedicada a Marcial Maciel, além de divulgar relatórios anuais como “Verdade, Justiça e Cura”. Também implementaram programas de ambientes seguros e processos de reparação às vítimas.
Contexto e conteúdo do documentário
A série da HBO Max analisa a trajetória de Maciel, que foi considerado líder carismático e grande arrecadador, mas também revelou-se um caso de abuso sexual de pelo menos 60 menores, além de problemas de dependência de um derivado de morfina, vida dupla e a existência de uma filha.
Com quatro episódios, a primeira temporada, dirigida por Matías Gueilburt, cobre desde os anos 1940, no México, até os anos 1990, abordando a fundação da congregação, sinais iniciais de alerta, expansão internacional e investigações, além da relação com o papa João Paulo II. Os relatos de vítimas como Juan Vaca, Alejandro Espinoza e José Barba compõem o depoimento de uma narrativa que mantém um tom respeitoso, combinando dramatizações com informações de arquivos, jornalistas e especialistas.
A produção destaca o compromisso do Vaticano e da congregação em confrontar seu passado, reconhecer os danos e promover a renovação, oferecendo uma visão ampla sem sensacionalismo, sempre focada na verdade e na justiça para as vítimas.
Reações da congregação e do Vaticano
No dia da estreia do último episódio, em 28 de agosto, a congregação divulgou uma nota reafirmando sua solidariedade às vítimas de Maciel e agradecendo aos membros que denunciaram abusos históricos, destacando nomes como Federico Domínguez e Juan José Vaca. “Lamentamos o uso não autorizado de imagens de pessoas, incluindo menores e ex-membros, sem sua permissão”, afirmaram.
Para o Arcebispo Francisco Robles, presidente da Conferência Episcopal Mexicana, a série reforça a importância do combate à cultura de abuso e da construção de espaços seguros na Igreja, incentivando a oração e o trabalho conjunto rumo à justiça e à verdade.
Histórico e investigações sobre Maciel
Marcial Maciel, fundado em 1941, foi objeto de investigações papais na década de 1950 por abusos de menores e uso de drogas. Apesar de ser suspenso temporariamente em 1956 e reintegrado, foi afastado definitivamente em 2006 por João Paulo II, após uma pesquisa que constatou ações imorais graves e uma vida oculta pelo próprio fundador.
Ao longo dos anos, a Igreja e a congregação revisaram sua trajetória, com a publicação de relatórios documentando 175 vítimas de abuso sexual por parte de diversos padres da ordem, incluindo pelo menos 60 por Maciel. Desde 2019, novas denúncias foram recebidas, e o processo de reavaliação, reabilitação e prevenção continua com estudos e treinamentos em ambientes seguros.
Reflexão e orientações finais
Quando questionados sobre a confiabilidade da série, os Legionários de Cristo ressaltaram que “todas as informações devem ser abordadas com discernimento” e disponibilizaram seus registros históricos para uma compreensão mais ampla. Acreditam que a produção pode contribuir para o entendimento do que aconteceu, ajudando na reparação e na prevenção de futuros abusos.
Este conteúdo foi inicialmente publicado pela ACI Prensa, parceiro de notícias em espanhol da CNA. A matéria foi traduzida, adaptada e atualizada em 28 de agosto de 2025, incluindo novas reações e posicionamentos da congregação e da Conferência Episcopal Mexicana.