Brasil, 2 de setembro de 2025
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Julgamento de Bolsonaro e a ameaça de retaliações de Trump

Início do julgamento de Bolsonaro marca tentativa de influência de Trump, com risco de sanções e escalada de retaliações internacionais

O início do julgamento de Jair Bolsonaro nesta terça-feira simboliza o último momento de tentativa de mudança de rumo na relação entre a família Bolsonaro e os Estados Unidos, segundo especialistas. Leonardo Paz, pesquisador da FGV e professor do Ibmec Rio, afirma que essa pode ser a última oportunidade de influenciar o cenário com a pressão de Donald Trump, especialmente diante de possíveis condenações que ameaçam ainda mais o futuro político do ex-presidente.

Pressão externa e custos para o Brasil

Paz destaca que, se condenado e preso, pouco se poderá fazer, o que torna a estratégia de atuar junto ao governo americano uma tentativa de evitar o pior. “O esforço é em vão, mas a probabilidade de retaliações cresce, principalmente após a sobretaxa de mais de R$ 30 bilhões aplicada às empresas brasileiras, sob alegação de perseguição a Bolsonaro”, explica o pesquisador. Essa quantia, segundo ele, corresponde ao pacote de crédito destinado a ajudar companhias prejudicadas pelas tarifas americanas.

Riscos de sanções e retaliações de Trump

Escalada de sanções individuais

Carlos Frederico de Souza Coelho, professor de Relações Internacionais na PUC-Rio, alerta que Donald Trump tende a responder com sanções pontuais, principalmente contra membros do Supremo Tribunal Federal (STF) e pessoas do governo brasileiro. “A situação é imprevisível, mas o mais provável é uma escalada em sanções, como restrições de vistos, incluindo o do ministro Fernando Haddad, além de aplicar a Lei Magnitsky contra familiares de envolvidos”, analisa.

Sanções econômicas e empresas

Paz reforça que “Smart Sanctions” podem ser também uma estratégia, atingindo bancos e empresas brasileiras. Uma possibilidade é pressionar instituições financeiras que operam nos EUA, como bancos utilizados pelo governo e pelos ministros. “Trump pode agir contra bancos com escritórios nos EUA e sistemas de pagamento como Pix, dificultando operações financeiras dos atingidos”, explica o pesquisador da FGV.

Impacto nas negociações e cenário internacional

Segundo Paz, a missão empresarial que visita os Estados Unidos na quarta-feira será crucial para negociar brechas e limitar danos. Ainda assim, ele lembra que os técnicos do departamento de comércio dos EUA buscarão formas de prejudicar o Brasil sem prejudicar seus próprios interesses. “Os dados que as empresas brasileiras apresentar poderão ajudar a esclarecer a real situação do país, ajudando a limitar os efeitos das retaliações.”

Para o professor da PUC-Rio, a saída para melhorar as negociações passaria por uma ampliação do leque de parceiros comerciais. “A estratégia do governo Trump é usar a política comercial como ferramenta de coação. É importante que o Brasil diversifique seus acordos para não ficar vulnerável a esse tipo de pressão”, afirma.

Perspectivas futuras e obstáculos

Desde a imposição da sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, o Brasil recorreu à OMC e adotou contramedidas baseadas na Lei da Reciprocidade Econômica. No entanto, Carlos Frederico adianta que a possibilidade de avanço nas negociações é tênue, tendo em vista a distância entre os governos. “A ausência de diálogo efetivo e os recursos diplomáticos limitados indicam que a situação deve se agravar antes de qualquer melhora”, conclui.

O julgamento de Bolsonaro, portanto, não representa apenas uma questão judicial, mas também um momento decisivo na relação entre o Brasil e os Estados Unidos, que pode desencadear uma série de sanções e retaliações capazes de afetar profundamente a política, economia e diplomacia brasileiras.

Fonte: O Globo

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