Um raio-X da pauta exportadora brasileira revelou que 195 produtos mantêm pelo menos 30% do mercado americano em suas vendas externas, com alguns atingindo 100%. A forte dependência desses produtos dos Estados Unidos evidencia o impacto do tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump sobre diversos setores nacionais, segundo levantamento da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).
Produtos mais afetados e mercados alternativos
Produtos como água de coco, mel natural, sebo de boi, calçados, café em grão e castanha-do-Pará estão entre os mais dependentes do mercado americano, que chega a 99,2% em alguns casos. O estudo aponta ainda que o Brasil possui 80 mercados alternativos para os principais produtos afetados, incluindo países como Egito, Noruega, Filipinas e Chile.
Por exemplo, a água de coco, tradicionalmente vendida por estados do Nordeste, como Ceará, Paraíba e Bahia, tem mais de 90% de dependência do mercado norte-americano. Em um caso extremo, as exportações da Bahia para os EUA representam 99,2% do total de vendidas ao exterior, enquanto o sebo de boi, utilizado na produção de cosméticos, chega a 100% em seis estados, como São Paulo, Pará, Goiás, Mato Grosso e Paraná.
Impacto regional e setores mais vulneráveis
O levantamento mostra que Ceará, São Paulo e Santa Catarina são os estados mais prejudicados, com dependência de 44,9%, 19% e 14,9%, respectivamente. A região Sudeste, com forte presença na indústria siderúrgica, lidera a lista de áreas mais afetadas pelo tarifão, seguida pelo Nordeste.
Produtos como o café em grão, produzido principalmente em Minas Gerais, e preparações alimentícias do Rio de Janeiro, como conservas de carne, também apresentam alta vulnerabilidade, com dependência que chega a 80,5% e 99,9%, respectivamente. O Espírito Santo, tradicional exportador de mármore, tem 81,1% de suas vendas internacionais destinadas aos EUA.
Desafios e possibilidades de expansão
Entre as alternativas, o estudo sugere países como Colômbia, Argentina, Egito, Polônia, Austrália, Filipinas, Reino Unido, Angola, Noruega, Emirados Árabes, Chile e Chipre como destinos potenciais das exportações brasileiras, caso o cenário de tarifas se mantenha.
Segundo Jorge Viana, presidente da Apex-Brasil, é fundamental que o governo invista na busca por novos mercados, sem abandonar a relação com os Estados Unidos. “Precisamos insistir nas negociações e sermos pragmáticos”, afirmou Viana, destacando a importância de medidas de socorro aos setores mais afetados, mas ressaltando que elas são paliativas.
Cenário de tensão e próximos passos
Analistas avaliam que o tarifaço de Trump limita o crescimento da siderurgia brasileira e ameaça a estabilidade de setores essenciais. Gerdau, maior siderúrgica do país, chegou a alertar que a situação está chegando ao “limite”.
Especialistas também destacam a necessidade de ampliar a diversificação de mercados, especialmente para produtos como sebo de boi, castanha, álcool etílico e frutas, para reduzir a vulnerabilidade da economia brasileira frente a mudanças abruptas na política comercial dos EUA.
Por ora, a recomendação é de que o Brasil mantenha a pressão diplomática e fortaleça relações com outros blocos comerciais, visando preservar sua presença no mercado global. A expectativa é que a agenda de negociações e de ampliação de mercados alternativas ganhe prioridade nos próximos meses.
Para mais detalhes, acesse a matéria completa.