A temporada de chuvas recorde em Cidade do México revelou a vulnerabilidade da capital em relação às inundações, com imagens de avenidas alagadas, carros submersos e transporte público colapsado reacendendo o debate sobre fatores que ameaçam a megalópole de mais de 20 milhões de habitantes. Além do impacto das mudanças climáticas, o precário sistema de drenagem, o crescimento populacional excessivo e a rápida subsistência do solo agravam ainda mais os riscos.
A subsistência em Cidade do México: uma questão histórica
Darío Solano Rojas, cientista da Faculdade de Engenharia da UNAM, afirma que “Cidade do México é o caso mais extremo de subsistência do mundo”. O fenômeno é provocado pela superexploração de águas subterrâneas e agravado pelo movimento do solo lacustre sobre o qual a cidade foi construída. Solano ressalta que este não é um problema novo: a capital lida com inundações severas desde antes da conquista europeia. “Desde que construíram as pirâmides com estacas de madeira, eles sabiam que o solo era propenso a ceder”, explica.
A singularidade de Cidade do México relaciona-se a dois fatores: o ambiente natural do Vale do México, que consiste em um sistema de lagos com sedimentos macios, e a extração de água subterrânea para atender à crescente demanda populacional. Solano, que usa imagens de satélite para avaliar a situação, acrescenta: “Esqueçamos a cidade por um momento e avaliem isso como um ambiente natural: temos muitas montanhas ao redor e a água fica presa; é uma bacia. O terreno da cidade tem uma propensão natural para que a água se acumule no centro, de onde começa a encher em direção às margens.”
Como Cidade do México está afundando
A velocidade com que os fundamentos da capital estão afundando não é uniforme. O Atlas de Risco da Cidade do México divide a subsistência em três categorias: amarelo, onde a subsistência é mais lenta (de 0 a 10 cm por ano); laranja, onde é maior (de 11 a 20 cm por ano); e vermelho, onde a subsistência é mais grave (de 21 a 30 cm por ano).
O mapeamento dessas áreas revela um padrão de subsistência que aumenta do centro e alcança seu ponto mais crítico em direção ao leste, enquanto diminui para o oeste. Emmanuel Zúñiga, pesquisador do Instituto de Geografia da UNAM, revela que não é coincidência que o centro-leste, que apresenta os maiores níveis de subsistência, seja também a região mais afetada pelas inundações. “Ali encontramos os maiores desastres relacionados a inundações”, destaca.
Zúñiga faz parte de uma equipe que utiliza um repositório de dados abertos de satélite para localizar as ruas e bairros mais afetados por inundações após cada tempestade. Após a primeira grande chuva do ano, no dia 2 de junho, que alagou estimadamente 143 locais e afetou 64 veículos, a equipe publicou um mapa detalhando as áreas mais atingidas. O cenário de junho se repetiu em 11 de agosto, quando as chuvas causaram danos significativos, especialmente na região central-leste, levando o Aeroporto Internacional da Cidade do México a suspender operações devido a pistas alagadas.

Enquanto Zúñiga e sua equipe trabalham com dados de satélite para identificar padrões que possam ser utilizados pelo governo local para tomadas de decisão em termos de prevenção, Solano pede uma reavaliação da proteção civil: “Nossa resposta está projetada para situações que não são tão extremas. Mas as mudanças climáticas exigem um reajuste global. Precisamos nos adaptar às novas condições, pois a tendência é que estes extremos, de precipitações e secas, aumentarão”, conclui.
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