A Comissão Europeia deve apresentar nesta quarta-feira, em Bruxelas, o texto oficial do acordo comercial com os países do Mercosul, em um gesto que busca ampliar os laços econômicos e comerciais. A iniciativa ocorre após a oposição contínua da França, que insiste na inclusão de cláusulas de salvaguarda para produtos agrícolas sensíveis, diante de receios de fragilização de setores tradicionais.
Tratado busca ampliar comércio entre União Europeia e Mercosul
Segundo fontes ouvidas pelo jornal O Globo, o acordo de livre comércio está na fase final de negociação e passará por uma votação dos comissários europeus na quarta-feira, uma etapa formal antes de ser submetido aos Estados-membros e ao Parlamento Europeu. O texto visa facilitar exportações de automóveis, máquinas e bebidas alcoólicas para Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, ao mesmo tempo em que simplificaria a entrada de carne, açúcar, arroz, mel e soja nos mercados europeus.
Preocupações agrícolas e garantias para a França
Desde a conclusão das negociações em dezembro, a França tem reiterado sua oposição ao tratado, classificado por ela como uma ameaça às cadeias de valor agroindustriais, como bovinos, aves, açúcar e biocombustíveis. Para atender às exigências francesas, fontes indicam que a Comissão Europeia estaria negociando um adendo ao texto, reforçando as cláusulas de salvaguarda para produtos agrícolas considerados sensíveis.
Para tentar obter o apoio de Paris, o acordo será acompanhado de garantias adicionais, que deverão ser detalhadas na rodada final de negociações. Caso o tratado avance, precisará de uma maioria qualificada de Estados-membros, já que a França sozinha não poderia impedir a ratificação, sendo necessária a união de pelo menos quatro países que representem 35% da população da UE.
Contexto político e perspectivas futuras
Após a apresentação do texto, os 27 países membros da União Europeia deliberarão e votarão, seguindo para análise do Parlamento Europeu, que decidirá por meio de votação em plenário. Este processo pode levar semanas ou meses, dependendo do grau de consenso entre os governantes.
Defensores do acordo, como a Alemanha, ressaltam a necessidade de abrir novos caminhos de exportação diante do retorno de Donald Trump à Casa Branca, que tem aumentado tarifas para produtos europeus, agravando o cenário de competitividade. Nesse contexto, o tratado aparece como uma oportunidade de reforçar a presença europeia em mercados das Américas do Sul.
Desafios e riscos
Especialistas alertam que o acordo pode fragilizar setores agrícolas europeus, especialmente os relacionados a carne, açúcar e arroz, ao facilitar a entrada de produtos sul-americanos na UE. A negociação de cláusulas de salvaguarda, portanto, é vista por defensores de Paris como um passo imprescindível para evitar impactos negativos econômicos e sociais.
Situações similares ocorrem em outros domínios comerciais globais, como a guerra comercial entre Estados Unidos e Índia, em que ambas as partes buscam mecanismos de negociação para evitar tarifas elevadas e proteger suas cadeias de valor.
Mais detalhes e o texto oficial do acordo podem ser acessados na reportagem do O Globo.