A Força Aérea dos Estados Unidos decidiu conceder honras militares a Ashli Babbitt, veterana que tentou invadir o Capitólio durante os tumultos de 6 de janeiro de 2021, gerando forte reação na sociedade americana. A medida, aprovada em 15 de agosto pelo subsecretário da Força Aérea, Matthew Lohmeier, refaz uma decisão anterior que negava esse reconhecimento à mulher de 35 anos, envolvida em controvérsia desde sua morte.
Reversão da decisão e o contexto da homenagem militar
Até então, a administração Biden havia recusado a concessão de honras militares por entender que Babbitt havia incorrido em atos ilegais ao tentar ingressar no Capitólio, ignorando comandos para se afastar e sendo posteriormente baleada por um policial. Segundo o ex-major-general Brian Kelly, à época, honrá-la traria “risco de desacreditar a Força Aérea dos EUA”.
No entanto, Lohmeier revisou a questão após analisar os fatos e informações recentes, concluindo que a decisão anterior foi inadequada. Assim, o funeral com honras militares — que normalmente inclui a execução de taps e a apresentação da bandeira americana por uma guarda de honra — será realizado em homenagem à veteranam, numa reaproximação que parte de aliados conservadores próximos ao ex-presidente Donald Trump.
Controvérsia e reações em ambos os lados
A decisão provocou reações polarizadas. Líderes republicanos ligados ao movimento Trump elogiaram a reversão, com o grupo Judicial Watch, conhecido por sua linha conservadora, expressando gratidão pela mudança de posicionamento e até convidando a família de Babbitt para um momento de condolências no Pentágono.
Por outro lado, figuras como o ex-deputado Adam Kinzinger, veterano da Força Aérea, criticaram duramente. “Honrar Babbitt é uma afronta à sua história de serviço. Ela tentou derrubar a democracia e isso mancha sua memória”, declarou Kinzinger, que também condenou a troca de “honras” por atos de insurreição.
Conexões e ideologias de Ashli Babbitt
A trajetória digital de Babbitt revela forte alinhamento com movimentos de extrema-direita. Ela apoiava a teoria da conspiração QAnon, que vê uma elite mundial composta por pedófilos satanistas ou controlada por “deep state”. Sua conta no Twitter, desativada após sua morte, era repleta de postagens de teorias relacionadas a essas ideias.
De acordo com investigação da organização Bellingcat, ela tinha uma postura explícita de apoio ao então presidente Donald Trump, incluindo referências à suposta “tempestade” — termo utilizado por seguidores de QAnon para descrever uma suposta batalha final contra supostos inimigos internos do país.
Repercussões jurídicas e políticas
Após a morte, a família Babbitt tentou uma ação de indenização de US$ 30 milhões contra o governo federal, alegando que ela não representava ameaça alguma ao momento. A controvérsia jurídica se estendeu até 2024, quando o governo federal aceitou pagar US$ 5 milhões em um acordo, pouco acima de expectativas.
Segundo analistas, a decisão de honrar Babbitt também reflete uma disputa política e simbólica, sobre o significado da violência no processo democrático e até que ponto a narrativa da “guerra cultural” norte-americana deve influenciar decisões institucionais.
Perspectivas e o impacto na memória coletiva
Especialistas e figuras da sociedade civil avaliam que a homenagem reacende debates sobre valores democráticos, lealdade às instituições e os limites do reconhecimento a ações marcadas por violência e ilegalidade. Enquanto alguns veem como uma afirmação de direitos dos veteranos, outros alertam para o risco de legitimar atos extremistas.
A Casa Branca ainda não se pronunciou oficialmente sobre o tema, mas a controvérsia evidencia a polarização que caracteriza o momento político nos Estados Unidos, onde símbolos carregam significados divergentes e minam consensos essenciais para a democracia.