O Brasil possui mais de 500 aeroportos públicos, mas em julho apenas 137 registraram voos comerciais, uma redução em relação aos 155 de julho de 2024 e aos 162 de 2023. Mesmo com um recorde de 11,6 milhões de passageiros no mês, a cobertura da malha aérea está encolhendo devido às dificuldades enfrentadas pelas companhias aéreas.
Redução de destinos e ajuste na oferta de voos
Segundo a análise da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a retração na oferta de voos também foi observada em março, quando 154 aeroportos receberam operações comerciais, contra 163 em março de 2023. A oferta de voos é frequentemente ajustada conforme demanda e sazonalidade, mas o cenário atual revela uma diminuição mais acentuada na quantidade de destinos atendidos.
Impacto das recuperações judiciais e reestruturações
Desde a pandemia, as principais companhias aéreas brasileiras recorreram ao Chapter 11 — equivalente à recuperação judicial — para combater altos níveis de endividamento. Latam, Gol e Azul passaram por esse processo, buscando reequilibrar suas finanças. No caso da Azul, o processo começou no fim de maio e envolve metas de redução de mais de US$ 2 bilhões em dívidas, além de uma redução de 35% na frota futura.
Reinvenção e ajustes estratégicos
Para assegurar a sustentabilidade, as empresas têm renegociado rotas e focado em maximizar a rentabilidade. A Azul, por exemplo, busca US$ 1,6 bilhão em financiamentos e ajuda financeira, além de ampliar seu foco na malha única, que concentra 83% da receita em rotas sem concorrência direta. Essa estratégia também envolve uma redução do número de destinos, que passou de mais de 160 para 137 desde o início do ano.
Vulnerabilidade do interior e o abandono de cidades
Especialistas alertam que a diminuição na malha aérea afeta especialmente as regiões interiores do país. Edvar Júnior, subsecretário de turismo de Campos, no Norte Fluminense, destaca que a cidade, que já perdeu voos diretos para o Rio, agora enfrenta o isolamento, prejudicando eventos e investimentos. A diminuição de rotas também impacta economicamente áreas com crescimento potencial, como o Porto do Açu, e regiões que aguardam investimentos da Petrobras.
Custos atrelados ao dólar e dificuldades do setor
Segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), os custos das companhias brasileiras têm cerca de 60% de relação com o dólar, influenciando tarifas e a capacidade de expansão. Além disso, fatores como o aumento do preço do combustível, o impacto do IOF sobre leasing de aeronaves e altos impostos dificultam a recuperação do setor.
Perspectivas e medidas para revitalizar o mercado
O Ministério de Portos e Aeroportos destaca que há planos de desenvolver a infraestrutura e a aviação regional, incluindo uma alíquota diferenciada para a aviação regional prevista pela reforma tributária. Além disso, o governo planeja liberar R$ 4 bilhões em linhas de crédito, condicionadas ao aumento de rotas na Amazônia e Nordeste, na tentativa de ampliar a conectividade de cidades menores.
Desafios para o crescimento sustentável
Apesar do aumento na demanda por turismo e negócios — impulsionado pelo crescimento do poder aquisitivo e por uma maior oferta na Europa — o setor de aviação ainda enfrenta obstáculos, como alta de custos, o impacto do dólar e a precariedade de infraestrutura em cidades do interior. Se a tendência de redução de rotas continuar, várias cidades podem permanecer isoladas, prejudicando o desenvolvimento local.
Para saber mais detalhes sobre o cenário da aviação brasileira, acesse a matéria completa neste link.