No Piauí, um projeto inovador está proporcionando novas oportunidades para mulheres que saíram do sistema prisional. O Projeto Alvorada, desenvolvido pelo Instituto Federal do Piauí (IFPI), foca em aulas de costura industrial para ex-presas e suas famílias, visando a ressocialização e a inserção dessas mulheres no mercado de trabalho. Com o apoio do Escritório Social da Secretaria de Justiça do Piauí (Sejus), a iniciativa almeja reduzir a taxa de reincidência entre ex-presos, que atualmente se encontra em alarmantes 48% no estado.
A importância da ressocialização
Iniciado em 2021, o Projeto Alvorada já abriu sua segunda turma em abril deste ano no campus do IFPI, localizado na Zona Sul de Teresina. O curso não se limita ao aprendizado do manuseio de máquinas de costura. As alunas também têm acesso a aulas de empreendedorismo, além de orientações sobre saúde, comunicação, matemática e tecnologia.
A coordenadora do projeto, professora Aline Chaves, enfatiza a relevância de oferecer uma formação que prepare essas mulheres para a realidade do mercado de trabalho. As alunas saem habilitadas para produzir peças tradicionais e sustentáveis, como bolsas e outros acessórios, que podem levar de duas a oito horas para serem confeccionados.
Valorização da cultura local
A professora Aline Chaves ressalta a importância de agregar valor ao saber tradicional da região nordestina, afirmando que “tudo que a gente consegue trazer para agregar valor, mostrar também o nosso saber tradicional — porque todas essas manualidades fazem parte da nossa tradição nordestina — é importantíssimo que a gente valorize”. Essa valorização é um aspecto fundamental do projeto, que visa não apenas a formação profissional, mas também o fortalecimento da identidade cultural das participantes.
Acesso a serviços integrais
As participantes do projeto têm acesso aos mesmos serviços que os outros estudantes do IFPI, incluindo atendimentos médicos, psicológicos, biblioteca e alimentação. A única distinção é que o processo de entrada no curso é realizado através do Escritório Social, que facilita o acolhimento dessas mulheres, garantindo seus direitos e deveres dentro da instituição.
“Elas têm os mesmos direitos e as mesmas obrigações. Usam farda, cumprem horário e frequência, recebem uma formação mais ampla. A sentença [que elas cumpriram] não é para sempre”, completa Aline, destacando a importância de olhar para o futuro dessas mulheres como uma promessa de reintegração à sociedade.
Impacto no mercado de trabalho
No último domingo (31), as participantes do projeto tiveram a oportunidade de expor e vender os acessórios que confeccionaram em uma feira ecológica realizada na Universidade Federal do Piauí (UFPI). Uma das alunas do curso, Leila Maria, expressou sua satisfação com a iniciativa. “O projeto é muito bom, está nos dando condições de termos um curso profissionalizante no futuro. Nós temos muitas oportunidades através desse curso, não só de costurarmos. Está abrindo um novo horizonte”, comentou Leila, mostrando a força transformadora do projeto em suas vidas.
Além da capacitação profissional, o Projeto Alvorada também busca melhorar a autoestima das participantes e oferecer um ambiente seguro e acolhedor, fundamentais para o processo de reintegração. A prática da costura não apenas fornece habilidades técnicas, mas também estimula a criatividade e a expressão pessoal, elementos que são cruciais para uma nova fase na vida dessas mulheres.
Esperanças e desafios
Embora o Projeto Alvorada esteja dando passos significativos para a reintegração de ex-presas no Piauí, o desafio da reincidência criminal ainda persiste. A parceria com a Sejus e a abordagem multifacetada do projeto, que inclui educação, saúde e autoestima, são fundamentais para combater essa questão. Materiais e recursos adicionais, assim como a mobilização da sociedade, são essenciais para o sucesso a longo prazo da iniciativa.
O Projeto Alvorada tem se mostrado um modelo promissor que pode inspirar outras iniciativas semelhantes em diferentes regiões do Brasil, demonstrando que com oportunidades e apoio, é possível transformar vidas e dar uma nova chance a quem tanto precisa.