A deputada republicana Marjorie Taylor Greene (R-Ga.) foi alvo de críticas após fazer comentários que parecem questionar a autenticidade da experiência de Jasmine Crockett (D-Texas) como mulher negra. Durante uma entrevista, Greene abordou o “luta do povo black americano” e sugeriu que Crockett, que é negra, talvez não compreenda completamente essa realidade, o que gerou reações de repúdio.
Greene e as acusações de macroagressão contra Crockett
Greene, que é branca, afirmou que a presença de Crockett no Congresso é um exemplo de como o racismo persiste, mesmo com as conquistas de pessoas negras. “Quando jovens negras pensam em, por exemplo, o que uma congressista representa, Crockett mostra que elas podem ser representantes de suas comunidades”, comentou. Para ela, a sucessão de Crockett na Casa Legislativa demonstra que o racismo “não se importa com o currículo de alguém” e que a discriminação racial acompanha as pessoas até os escritórios do Congresso.
Ela ainda condenou a ideia de que o sucesso de Crockett na política “faça dela uma impostora”, insinuando que a verdadeira experiência negra é marcada por pobreza e fracasso, o que foi considerado uma macroagressão por ativistas e analistas especializados na questão racial.
Reação de Crockett e especialistas](https://www.huffpost.com/entry/jasmine-crockett-marjorie-taylor-greene-black-american-struggle-experts_n_68a72afce4b0d184fdf4ec90)
Jasmine Crockett respondeu às críticas por meio de uma postagem no X (antigo Twitter), sem mencionar diretamente Greene. Ela relembrou o ataque racista frequente ao qual é submetida, além de reforçar seu compromisso com a representatividade e o combate ao racismo estrutural.
Especialistas como Portia Allen-Kyle, da organização racial Color Of Change, ressaltam que as palavras de Greene representam um exemplo de macroagressões — ofensas explícitas que reforçam estereótipos raciais, ao contrário das microagressões, que são ataques mais sutis. “Quando Greene foca na aparência de Crockett ao invés de suas palavras, ela reforça um antigo padrão racista de desmerecimento”, afirmou Allen-Kyle.
A crítica ao trecho de ataques e o contexto político
Antes das declarações de Greene, Crockett já havia sido alvo de acusações injustas por parte da mídia conservadora, incluindo o jornal New York Post, que publicou acusações de comportamento “diva” envolvendo fontes anônimas. Crockett declarou que tais alegações eram falsas e sem fundamento.
Na entrevista recente, Greene também criticou a trajetória acadêmica de Crockett, afirmando que ela “se apresenta como representante do povo, mas foi criada em escola privada e não passa de uma fake”. A congressista ainda comparou sua própria experiência ao ataque que Barack Obama e Kamala Harris sofreram, ao tentar deslegitimar suas origens e experiência.
Impacto na narrativa anti-Black e estratégias de deslegitimação
Analistas como Deepak Sarma, da Universidade Case Western Reserve, apontam que esse tipo de ataque faz parte de uma estratégia maior da ala MAGA de criar narrativas destrutivas e desumanizadoras contra líderes negros. “Ataques baseados em suposições, projeções e estereótipos são comuns e visam minar a confiança na representatividade negra na política”.
Por sua vez, especialistas em raça afirmam que a narrativa de Greene revela o desconforto de certos grupos com a presença de vozes negras na política, especialmente quando usam o idioma e a cultura afro-americana. “Essa resistência é alimentada pelo medo de que uma Black woman possa ser mais inteligente e articulada do que eles”, comenta Allen-Kyle.
Reações e o cenário atual de resistência
Sociólogos e ativistas alertam que esse tipo de discurso reforça a normalização de ataques racistas na política americana, dificultando o avanço de agendas de equidade racial. A resposta de Crockett e de outros defensores dos direitos civis representa um fortalecimento na luta contra esse racismo institucionalizado e suas manifestações públicas.
O episódio demonstra a importância de fortalecer o debate sobre racismo estrutural na política e de combater discursos de ódio que alimentam a divisão racial no país. Como afirmou Allen-Kyle, “a tentativa de deslegitimar a experiência ou a inteligência de uma mulher negra é uma jogada antiga, mas que ainda precisa ser enfrentada”.