A tecnologia avança rapidamente e, com ela, novas formas de lidar com a morte e o luto estão surgindo. A professora Katarzyna Nowaczyk-Basińska, da Universidade de Cambridge, prevê que em poucos anos poderemos nos comunicar com nossos entes queridos que partiram através de aplicativos de inteligência artificial. Esta inovação promete transformar profundamente a forma como vivemos a experiência da perda.
Previsões para o futuro da indústria digital após a morte
Nowaczyk-Basińska, que investiga como a morte e o luto serão vividos em um mundo digital, acredita que até 2030 poderemos “ter nossos entes queridos mortos em nossos bolsos”, permitindo conversas praticamente 24 horas por dia. A especialista destaca que a acessibilidade a essas tecnologias pode levar as pessoas a abandonarem os cemitérios, considerando que visitar os túmulos se tornará algo “ultrapassado”.
A popularidade da tecnologia que simula interações com os mortos
A pesquisadora afirma que as tecnologias que permitem a comunicação com versões geradas por IA de pessoas falecidas se tornarão “bastante populares”, mas expressa preocupações sobre as consequências que essa mudança poderia gerar na forma como lidamos com a perda. O desenvolvimento do que ela chama de “indústria digital após a morte” já começou a se concretizar em mercados como os Estados Unidos e a China. Empresas estão digitalizando as pegadas digitais de pessoas falecidas e criando avatares que imitam suas personalidades e padrões de fala.
Katarzyna menciona que a estrada para a “imortalidade digital” já está sendo pavimentada. Exemplos desse fenômeno incluem o uso polêmico de vocais gerados por IA de artistas falecidos em novas músicas e vídeos. Um exemplo disso é o caso de artistas como Drake, que lançou uma música utilizando a voz de Tupac Shakur, e Rod Stewart, que criou um vídeo em que Ozzy Osbourne, também falecido, aparece “no céu” durante um show.
Questões éticas e emocionais envolvidas
Apesar do avanço tecnológico, Nowaczyk-Basińska adverte sobre as implicações éticas de interagir com seres que já faleceram. Ela ressalta que, embora as crianças possam persistir em um “relacionamento” com seus pais falecidos, precisamos refletir sobre os efeitos no processo de luto. Alessandra Lemma, consultora em um centro nacional de crianças e famílias, expressa preocupação com a importância do luto. “É uma parte essencial do desenvolvimento humano reconhecer a ausência de outra pessoa”, afirma.
Ademais, questões de privacidade têm sido levantadas, como o que ocorre quando as empresas coletam e lucram com os dados de pessoas que já não estão mais entre nós. Nowaczyk-Basińska enfatiza que “os direitos e as necessidades de ambos os lados devem ser igualmente respeitados”.
O crescimento da indústria e a acessibilidade das novas tecnologias
Agora, a pesquisadora projeta que em breve esses agentes de IA, que podem simular seres falecidos, se tornarão uma tecnologia comercial viável, disponível para o público em larga escala e operando em modelos de assinatura. Empresas como Replika, que atua como um chatbot, e StoryFile, que permite interações em funerais, são exemplos dessa nova era.
Em um mundo onde a linha entre vida e a morte pode se tornar ainda mais tênue, somos forçados a perguntar: até onde estamos dispostos a ir para manter a conexão com os que amamos? O avanço da inteligência artificial talvez esteja moldando um novo tipo de luto, um que precisa ser cuidadosamente analisado e compreendido em sua totalidade.
Como será a dinâmica de nossa relação com a morte e o luto em um futuro onde a tecnologia permite esse tipo de interação? As promessas feitas na era digital são reais, mas também carregam um conjunto de desafios éticos e emocionais que ainda precisamos explorar.