Estudos recentes indicam que transtornos mentais, como depressão, ansiedade e bipolaridade, podem ter um impacto devastador na saúde cardiovascular, levando a uma redução significativa na expectativa de vida. A pesquisa, publicada na revista The Lancet Regional Health-Europe, destaca que pessoas com esses transtornos enfrentam um risco alarmante de doenças cardíacas, que superam as taxas de mortalidade por suicídio e overdose.
O impacto dos transtornos mentais na saúde cardíaca
Pessoas que sofrem de depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar, PTSD e ansiedade podem viver de 10 a 20 anos a menos em comparação com a população geral. A depressão, por exemplo, aumenta o risco de doenças cardíacas em 72%, enquanto a esquizofrenia quase dobra esse índice, com um aumento de 95%. Outro fator preocupante é que, apesar do risco elevado, indivíduos com transtornos mentais frequentemente recebem um atendimento cardiovascular inferior ao da população em geral.
Esses números revelam uma realidade alarmante: aproximadamente um em cada quatro indivíduos experimentará um transtorno de saúde mental em sua vida, e muitos não receberão o tratamento necessário. Além disso, a pesquisa aponta que as taxas de mortalidade cardíaca nessa população são significativamente mais altas, ressaltando a urgência de integrar cuidados de saúde mental e física.
A relação entre saúde mental e doenças cardíacas
Os transtornos mentais e as doenças cardiovasculares estão interligados em um ciclo vicioso. Indivíduos com problemas de saúde mental tendem a adotar comportamentos que prejudicam a saúde do coração, como o aumento do tabagismo, redução da atividade física e hábitos alimentares inadequados. Além disso, o estresse crônico associado a esses transtornos pode causar alterações biológicas prejudiciais, como aumento da inflamação e da pressão arterial.
Os dados mostram que a depressão afeta cerca de 18% das pessoas com doenças cardiovasculares, número que salta para 28% após eventos agudos, como infartos. Além disso, quase um em cada quatro sobreviventes de AVC desenvolve depressão, enquanto 12% dos sobreviventes de infarto cardíaco sofrem de PTSD após o trauma cardíaco.
Sistemas de saúde falham em cuidar desse grupo vulnerável
Os sistemas de saúde costumam tratar os transtornos mentais e as doenças cardíacas como problemas separados. Cardiologistas frequentemente não reconhecem os sintomas de saúde mental, e psiquiatras podem não monitorar adequadamente a saúde cardíaca. Apesar de terem mais contatos com os serviços de saúde, as pessoas com transtornos mentais recebem menos exames de saúde física e triagens cardiovasculares.
Dados alarmantes indicam que, segundo uma pesquisa realizada em 2023 nos EUA, 54% dos americanos que cumpriam os critérios para transtornos mentais não receberam tratamento. Em populações não brancas, menos de 45% receberam qualquer cuidado de saúde mental. Mesmo em países com sistema de saúde universal, muitos indivíduos com transtornos mentais não recebem os tratamentos cardiovasculares recomendados.
Exercício e cuidados integrados: alternativas promissoras
Tratamentos tradicionais de saúde mental podem ajudar a reduzir o risco cardiovascular, embora os resultados variem. O exercício físico se mostra especialmente benéfico para a depressão, onde deve ser considerado como uma forma de tratamento principal. Além disso, práticas mente-corpo, como yoga e meditação, demonstram resultados promissores tanto para sintomas de saúde mental quanto para fatores de risco cardiovascular.
Programas de cuidados integrados que coordenam o tratamento de saúde mental e cardiovascular têm mostrado melhorias. No entanto, esses programas ainda não demonstraram que podem reduzir infartos ou mortes cardiovasculares. Os pesquisadores pedem mudanças significativas nos sistemas de saúde, enfatizando a necessidade de treinar médicos que compreendam as conexões entre saúde mental e física.
É urgente que a pesquisa médica comece a incluir pessoas com transtornos mentais em estudos cardiovasculares, já que até 25% da população pode experimentar esses transtornos ao longo da vida. Abordar essa crise pode prevenir milhões de mortes prematuras. Portanto, os sistemas de saúde precisam tratar a saúde mental e física como questões interconectadas, em vez de separá-las.
Enfrentamos um desafio monumental que requer atenção imediata e estratégias de intervenção eficazes para garantir que todos recebam os cuidados adequados que merecem.