O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ganhou as páginas da renomada revista britânica “The Economist”, que destaca a importância desse evento no contexto democrático. A edição que chega às bancas nesta quinta-feira traz uma imagem de Bolsonaro com o rosto pintado nas cores da bandeira nacional, refletindo uma analogia com figuras conhecidas que provocaram euforia e polêmica na política contemporânea, como Jacob Chansley, o ‘Viking do Capitólio’, protagonista da invasão ao Congresso dos EUA em 2021.
A segurança no julgamento de Bolsonaro
Com o julgamento programado para ocorrer na próxima terça-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) já iniciou medidas de segurança ostensivas. A praça em frente ao tribunal deve ser fechada e preparada para evitar qualquer tipo de protesto ou manifestação que possa atrapalhar a justiça. Este evento é visto como um momento crucial para o Brasil e sua democracia.
A “The Economist” faz referência à situação do Brasil, que se encontra no processo de julgar Bolsonaro e outros acusados de tramarem uma tentativa de golpe. Para a publicação, o laser da democracia brasileira às portas de um julgamento de um ex-presidente polarizado poderia ser uma lição para os EUA, que atravessam um momento controverso com líderes que desvirtuam a democracia e suas instituições.
Um panorama sobre o atual cenário político
Bolsonaro se encontra em prisão domiciliar desde 4 de agosto, considerado inelegível e em condições de enfrentar severas penalidades com relação à trama golpista que culminou na destruição das sedes dos Três Poderes em Brasília, ocorrida em 8 de janeiro de 2023. Enquanto isso, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que incentivou seus apoiadores a invadirem o Capitólio, não enfrentou consequências legais semelhantes e ainda é considerado candidato viável nas eleições de 2024.
A “The Economist” indica que a erosão da democracia nos Estados Unidos é evidente, salientando tentativas de Trump em interferir no Federal Reserve, além de ameaças de ação federal em cidades governadas por opositores. Esta análise ressalta que as decisões de Trump em relação ao Brasil continuam a impactar o país, tentando sabotar o processo democrático ao impor tarifas sobre produtos brasileiros e sancionar personagens políticos importantes, como o ministro do STF, Alexandre de Moraes.
Brasil e EUA: lições trocadas
A publicação enfatiza que o julgamento de Bolsonaro representa um marco e contrasta com a situação da política americana, em que a resistência à accountability parece princípio fundamental. O ex-presidente brasileiro, que teve suas chances de reeleição barradas e está em um processo judicial por suas ações, é descrito como um sinal de esperança para países que lutam contra a ascensão do populismo autoritário.
Bolsonaro e seus aliados podem ‘provavelmente’ ser considerados culpados, segundo a revista, o que demonstra um marco importante de resposta civil contra a corrupção e a tentação autoritária no Brasil, especialmente em um momento em que instituições democráticas estão vigorando e enfrentando desafios significativos.
O papel do STF e a reação da sociedade
A “The Economist” traz à tona a percepção de que as autoridades brasileiras têm uma postura diferente devido à memória ainda viva da ditadura militar, instaurada décadas atrás. O STF é valorizado por sua função de proteger a democracia e ser um baluarte contra ações autoritárias.
A revista destaca que a maioria da população brasileira está ciente do que ocorreu durante o governo de Bolsonaro e até governadores conservadores expressam críticas ao ex-presidente, embora reconheçam a necessidade de conquistar apoio dos mesmos para eleições futuras em um cenário polarizado.
Além disso, a “Economist” percebe um consenso entre empresários e políticos sobre a necessidade de mudanças institucionais, embora critiquem a condução do STF e o papel do ministro Alexandre de Moraes na supervisão de inquéritos políticos.
Por fim, a revista aponta que a configuração política do Brasil e a resposta à tentativa de golpe de Bolsonaro podem se tornar um modelo a ser seguido por outras democracias ameaçadas globalmente, em um tempo em que a corrente autoritária parece prevalecer em várias partes do mundo, especialmente nos Estados Unidos.