Brasil, 28 de agosto de 2025
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“Isso me deixou realmente irritada”: reações de uma trabalhadora sexual a “Anora”

Uma prostituta de Nova York compartilha suas reflexões honestas sobre o filme premiado, destacando diferenças entre ficção e realidade.

O filme “Anora”, dirigido por Sean Baker e estrelado por Mikey Madison, tem conquistado crítica e público, ganhando cinco Oscars. A trama, que retrata uma stripper que se casa com um herdeiro russo, foi também objeto de discussões entre profissionais do setor sexual. Uma trabalhadora sexual de Manhattan, Emma*, de 25 anos, compartilhou suas impressões, revelando uma mistura de frustração, angústia e esperança em relação às representações da indústria na narrativa de Baker.

Precisão nas cenas de trabalho e percepções sobre a relação

Para Emma, muitas das cenas iniciais do clube de stripistas pareceram autênticas. “Quando assisti ao começo, fiquei entediada — e acho que isso significava que era real, porque me lembrou do meu trabalho”, ela explicou. Contudo, sua insatisfação começou ao perceber certas omissões, como a expectativa de profissionalismo ao tratar de dinheiro e limites. “Nunca, na minha experiência, seguimos com mais sexo só porque o cliente já pagou, é uma questão de respeito”, afirmou.

Ela também ficou ressentida ao ver as colegas comemorando no vestiário por Ani, personagem de Madison, estar noiva. “Ninguém fala que não é uma decisão inteligente depender de um homem que não gera sua própria renda”, disse Emma. A profissional destacou a autonomia das bailarinas e prostitutas, que preferem sempre buscar independência financeira.

Representação das relações amorosas e sexuais na produção

Outro ponto de discordância foi a personagem Ani, que, após o casamento, passa a se apresentar de forma excessivamente sexualizada. Emma apontou que isso reforça uma visão masculina idealizada do que uma mulher na indústria deveria ser. “Quando começo a passar bastante tempo com alguém, esse personagem não é mais quem ela realmente é — é uma persona que se coloca na hora do trabalho”, ela explicou.

A profissional criticou ainda a narrativa de Ani como alguém ingênua, que acredita que o relacionamento com Vanya, seu marido fictício, seria duradouro. “Ela acha que ele realmente se apaixonou, o que é uma ilusão comum na nossa rotina. Todos nós sabemos que podemos ser facilmente substituídos”, afirmou Emma, ressaltando o sentimento de vulnerabilidade constante que vive a maioria das trabalhadoras sexuais.

Como os homens se veem na rotina das stripper e profissionais do sexo

Emma falou sobre a percepção de muitos homens que entram na rotina da prostituição como “bons moços” que querem “ajudar” as profissionais. “Sérios, eles tentam parecer os ‘salvadores’, mas na verdade só querem uma oportunidade de conseguir algo sem pagar o preço”, ela revelou. A jovem também teme que o filme possa reforçar essa ideia de que as meninas do clube desejam um relacionamento sério com esses homens, o que ela considera uma ilusão perigosa.

Razões da ira diante do retrato de “Anora”

Para Emma, o maior problema do filme é a romantização do trabalho sexual como uma paixão ou uma relação de amor verdadeiro. “As pessoas acham que mostrar dor significa representação real, mas minha dor vem de insegurança financeira ou do desrespeito, não do sexo em si”, ela criticou. Emma afirma que a narrativa reforça um estereótipo de que as trabalharas sentimentais e emocionalmente frágeis são a realidade do setor.

Ela também considerou frustrante a representação de Ani como alguém que estava “acidentalmente” apaixonada. “Se ela realmente estivesse nessa situação, não sentiria necessidade de se acomodar ao lado de um homem que não a valorizava”, afirmou. Emma desejava que a história terminasse com Ani rejeitando Igor, símbolo da manipulação masculina.

Reflexões finais sobre a indústria e a ficção

Emma conclui denunciando como o filme funciona como uma narrativa alimentada por uma fantasia masculina: “As pessoas ganham dinheiro, fama e reconhecimento ao reforçar a ideia de que isso tudo tem que ser triste ou emocional de alguma forma. Mas nossa realidade é bem diferente.” Ela reforça a importância de reconhecer que muitas dessas representações dinâmicas são fantasias que não refletem a verdadeira vida de quem trabalha na indústria do sexo, que busca autonomia, respeito e segurança.

*Nome fictício para preservar anonimato.

  • Palavras-chave: representação do trabalho sexual, filmes, indústria do sexo, Emma, opinião de trabalhadora sexual
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  • Tags: trabalho sexual, cinema, representação, opinião, Emma, Anora
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