A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do INSS se reúne nesta quinta-feira, 28 de agosto, para ouvir os primeiros depoimentos das investigações acerca de fraudes no sistema previdenciário brasileiro. Neste cenário, o governo e a oposição estão aperfeiçoando suas estratégias para a condução dos trabalhos, refletindo as tensões políticas que marcam o cenário atual. Enquanto a oposição busca explorar possíveis conflitos de interesse relacionados à operação da Polícia Federal, a base aliada do Palácio do Planalto se esforça para manter a maioria no colegiado e evitar novas derrotas, especialmente após a disputada eleição de seu presidente.
Depoimentos e tensões nas investigações
Um dos depoimentos agendados para hoje é o do delegado da Polícia Federal Bruno Oliveira Pereira Bergamaschi, que lidera a Operação Sem Desconto. Este depoimento será realizado sob sigilo, mas a expectativa é que oposicionistas aproveitem a oportunidade para questioná-lo sobre um contrato controverso firmado pelo escritório do advogado Enrique Lewandowski, filho do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, com o Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap). Essa entidade está sendo investigada por supostas fraudes no INSS, e o ministro tem negado qualquer conflito de interesse ou interferência de seu filho no caso.
Convocação de Frei Chico e estratégias da oposição
Além deste depoimento, a oposição planeja insistir na convocação de Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi). Entretanto, Frei Chico não é um dos investigados e, portanto, sua convocação não é prioritária neste momento.
No início da semana, um acordo entre membros da base governista e da oposição resultou na exclusão da convocação de Frei Chico da agenda, o que gerou descontentamento entre alguns oposicionistas. O deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) negou a existência de um pacto para proteger o irmão de Lula, mas a decisão de convocar apenas presidentes das entidades investigadas acabou por limitar a possibilidade de audiências mais amplas sobre o assunto.
Requerimentos e acesso a dados
Em um movimento estratégico, a oposição também apresentou uma série de requerimentos visando à ampliação do acesso a dados relevantes para a investigação. Entre os documentos solicitados estão relatórios internos da Controladoria-Geral da União (CGU), peças da Advocacia-Geral da União (AGU) sobre estratégias de ressarcimento, investigações da Polícia Federal, além de informações da Dataprev sobre a segurança do portal Meu INSS.
Esses pedidos podem servir como base para futuras depoimentos e também para mapear as conexões políticas envolvidas nas fraudes. Com isso, a oposição busca descobrir registros de circulação de dirigentes de entidades investigadas em gabinetes do Senado e da Câmara, no Ministério da Previdência e no próprio INSS. A identificação de visitas de figuras centrais, como Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, é uma das prioridades para rastrear possíveis práticas ilícitas e contatos que possam ter influenciado a operação que investiga o INSS.
Movimentações do governo para evitar derrotas
Diante dessas movimentações, o governo também tem se mobilizado para evitar novos reveses. Nos últimos dias, testemunhos e evidências apresentadas pela oposição surpreenderam o governo, levando à troca de integrantes da CPI. Senadores com histórico de apoio ao governo, como Omar Aziz (PSD-AM) e Renan Calheiros (MDB-AL), deixaram o colegiado, e a base aliada tem trabalhado para assegurar pelo menos 18 votos consistentes que sustentem a posição do Planalto.
A avaliação é de que a resistência enfrentada até agora se deve, em parte, ao fato de que a oposição conseguiu surpreender ao apresentar requerimentos em sessões destinadas, em princípio, apenas à coleta de depoimentos. Assim, a articulação política é fundamental para garantir um espaço de controle e influência dentro da CPI, onde a verdade sobre possíveis fraudes nos benefícios previdenciários será investigada com rigor.
Com uma CPI marcada pela polarização e tensões, o andamento das próximas sessões promete ser decisivo para o futuro tanto da investigação quanto da estabilidade política no Brasil.