A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do INSS deu um passo significativo nesta quinta-feira ao aprovar um requerimento que permitirá levantar as movimentações do “careca do INSS”, Antônio Carlos Camilo Antunes, no Ministério da Previdência. Antunes é considerado o operador central de um esquema que liga associações fraudulentas a servidores públicos. No entanto, um outro requerimento para quebrar o sigilo das visitas dele ao Senado não foi apreciado. A sessão também resultou na aprovação de 37 requerimentos para acesso a diversas informações do INSS e outros órgãos.
Movimentações financeiras suspeitas
Relatórios da Polícia Federal (PF) revelaram que Antunes movimentou cerca de R$ 53 milhões provenientes de entidades sindicais e empresas relacionadas, quantia que supera em muito a renda mensal declarada por ele, de R$ 24 mil. Há indícios de que parte desses recursos foi destinada à compra de presentes para dirigentes do INSS, incluindo um veículo Porsche avaliado em R$ 500 mil, que foi transferido para a esposa de um procurador do órgão. Esses dados levantam preocupações sobre a natureza das relações entre Antunes e o setor público.
Estratégias da CPI e confrontos políticos
Durante a reunião, o colegiado também começou a ouvir os primeiros depoimentos, enquanto o governo e a oposição tentam alinhar suas estratégias. A oposição busca mapear todas as visitas de Antunes para identificar potenciais ligações políticas. Além disso, pediu o registro das entradas e saídas de dirigentes de entidades investigadas em gabinetes do Senado, Câmara e no próprio INSS para traçar cronologias de encontros e canais de influência.
Ampliação das investigações
A oposição propõe uma série de requerimentos para expandir o acesso a dados relacionados às investigações em curso. Esses pedidos incluem relatórios internos da Controladoria-Geral da União (CGU), documentos da Advocacia Geral da União (AGU) sobre estratégias de ressarcimento e informações da Dataprev sobre a segurança do portal Meu INSS. Os parlamentares esperam que essas informações ajudem a desvendar a complexa teia de relações que envolve a corrupção no setor previdenciário.
Mudanças na composição da CPI
Nos últimos dias, o governo também iniciou uma série de alterações na composição da CPI a fim de evitar novas derrotas. Senadores como Omar Aziz (PSD-AM) e Renan Calheiros (MDB-AL) deixaram o colegiado, enquanto aliados do Planalto buscam assegurar pelo menos 18 votos alinhados à base governista. Os governistas reconhecem que parte das dificuldades enfrentadas até aqui é resultado das estratégias da oposição, que conseguiu surpreender com a inclusão de requerimentos em sessões que, teoricamente, eram apenas para ouvir depoimentos.
Depoimentos e expectativas
O primeiro depoimento foi da defensora pública Patrícia Bettin Chaves, coordenadora do setor previdenciário da Defensoria Pública da União (DPU), que já havia denunciado descontos em aposentadorias antes do início das investigações. Em seguida, o colegiado ouvirá o delegado Bruno Bergamaschi, responsável pela investigação sobre o uso indevido de dados de beneficiários para a cobrança de serviços não solicitados. Este, por sua vez, também será um depoimento sigiloso.
Conflitos de interesse
Um dos pontos relevantes da investigação é a possibilidade de conflitos de interesse relacionados ao atual governo. Oposição pretende questionar Bergamaschi sobre um contrato entre o escritório do advogado Enrique Lewandowski, filho do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e a entidade investigada Cebap. O ministro nega qualquer interferência ou conflito. Além disso, a oposição tem pressionado pela convocação de Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também está vinculado ao Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos, embora não figure entre os investigados.
Acordo parlamentar e desdobramentos
Na última segunda-feira, um pacto entre membros da base governista e oposicionistas resultou na exclusão da convocação de Frei Chico. Embora líderes opositores tenham negado que houve um acordo para proteger o irmão do presidente, o consenso foi que apenas os presidentes das entidades investigadas seriam convocados, excluindo o dirigente sindical.
As repercussões das ações da CPI devem ser acompanhadas de perto, já que tanto a oposição quanto o governo continuam em uma batalha para moldar a narrativa e as reivindicações que emergem desta investigação crítica.