A deputada republikana Marjorie Taylor Greene (R-Ga.) tem sido alvo de críticas após comentários considerados racistas dirigidos à deputada democrata Jasmine Crockett (D-Texas). Greene questionou a autenticidade da experiência de Crockett como mulher negra, discutindo sua compreensão sobre a luta do povo negro nos Estados Unidos.
Greene e as declarações sobre a experiência negra de Crockett
Durante uma entrevista na semana, Greene afirmou que Crockett “faz um retrato caricatural de pobreza e luta” ao analisá-la como representante negra, sugerindo que sua história não seria verdadeira. Ela disse ainda que Crockett, que é negra, não entenderia a “verdadeira luta” do povo negro no país, alegando que o fato de ela estar na política é uma “fachada”.
“Ela não pode transcender a sua negritude por meio de educação ou riqueza. Racismo e anti-negritude seguem nos perseguindo, seja na presidência ou no Congresso”, afirmou Greene. Essas declarações geraram forte repercussão nas redes sociais, com usuários e especialistas apontando o caráter macroagressivo dos comentários.
Reações e análises de especialistas
A ativista e advogada portadora de direitos civis Portia Allen-Kyle, do Color of Change, destacou que as palavras de Greene representam uma postura racista. Ela afirmou que a deputada americana confunde a luta real do povo negro com estereótipos, além de apontar que “Greene não compreende a rotina de discriminação que negros enfrentam independentemente de sua educação ou status financeiro”.
Deepak Sarma, professor de estudos religiosos na Case Western Reserve University, afirmou que as declarações de Greene seguem uma estratégia política similar à do ex-presidente Donald Trump, baseada na criação de ataques infundados para deslegitimar figuras negras. “É uma projeção Jungiana, onde ela atribui a Crockett características negativas que ela mesma possui”, explicou Sarma.
Debates sobre racismo estrutural e ataques políticos
Especialistas concordam que as agressões de Greene refletem uma tentativa de desacreditar Crockett por sua origem social e seu modo de falar, frequentemente criticado por conservadores. “Ela não apenas discrimina pela cor, mas também revela seu desconforto com a cultura, expressão e a inteligência de uma mulher negra que desafia estereótipos”, analisou Allen-Kyle.
Além disso, as críticas de Greene também envolvem ataques pessoais relacionados ao estilo de vida e aparência de Crockett, como o uso de AAVE e escolhas de moda — elementos considerados como formas de desqualificação racial e cultural.
Contexto e impacto na política americana
Crockett, que já enfrentou ataques pela forma de se comunicar e por sua origem socioeconômica, respondeu às declarações de Greene de forma indireta nas redes sociais, reafirmando a sua autenticidade e o valor da representatividade negra na política.
Segundo Sarma, essas ações fazem parte de uma estratégia mais ampla de setores conservadores, que buscam desacreditar lideranças negras de forma sistemática. “Essa é uma forma de implementar uma política racial dissimulada, que reforça um pensamento retrógrado e adverso à diversidade”, afirmou.
Já Portia Allen-Kyle destacou que ataques às mulheres negras na política, como os feitos por Greene, “não apenas perpetuam o racismo, mas também impedem avanços em uma sociedade mais justa e inclusiva”.
Este episódio ressalta os desafios enfrentados por representantes negros no Congresso dos EUA, ao mesmo tempo em que evidencia o aumento das ações de intolerância e racismo na política atual.