Em um cenário político cada vez mais polarizado, os eleitores ‘nem-nem’, que não se identificam nem com o lulismo nem com o bolsonarismo, têm se mostrado cruciais para a eleição presidencial do próximo ano. Recentemente, os resultados de uma pesquisa Genial/Quaest indicam uma crescente rejeição a Jair Bolsonaro (PL), enquanto Luiz Inácio Lula da Silva (PT) parece ganhar terreno, mesmo que a desaprovação ao seu governo ainda se mantenha alta entre esse grupo.
O perfil dos eleitores ‘nem-nem’ e suas preocupações
Os eleitores indecisos, que representam cerca de 30% dos entrevistados, são identificados por suas posições neutras em relação às duas principais figuras políticas do Brasil atualmente. Segundo a pesquisa, uma das perguntas mais marcantes é: qual é o maior medo desses eleitores? Um aumento no receio sobre a volta de Bolsonaro ao Planalto foi identificado; desde julho, a preocupação subiu de 38% para 46% entre os ‘nem-nem’. Em contrapartida, o temor pela continuidade do governo Lula é de 25%, uma diferença de 21 pontos percentuais que tem impactado a avaliação geral dos candidatos.
Rejeição crescente a Bolsonaro
Atualmente, 47% da população rejeita mais a volta de Bolsonaro, comparado a 39% que vêem a continuidade de Lula como a pior alternativa. Essa tendência fica ainda mais evidente ao observar o grupo dos eleitores indecisos, onde 46% estão contra o retorno de Bolsonaro e apenas 25% temem a permanência de Lula. Este aumento na rejeição a Bolsonaro deve-se, em parte, à percepção de sua recente prisão domiciliar e sua relação com acontecimentos políticos conturbados, tais como as investigações sobre sua suposta participação em um golpe de Estado.
A influência das últimas notícias
A pesquisa Genial/Quaest ressaltou que 60% dos ‘nem-nem’ consideram a prisão de Bolsonaro justa, enquanto apenas 29% acreditam que foi indevida. Este contraste reflete uma mudança significativa em como esses eleitores estão interpretando os fatos e acontecimentos recentes, influenciando diretamente o cenário político e a opinião geral sobre o ex-presidente.
Alteração nas percepções sobre os governos Lula e Bolsonaro
Além disso, a pesquisa mostra que a avaliação dos eleitores ‘nem-nem’ em relação aos mandatos de Lula e Bolsonaro também está em transformação. Inicialmente, as avaliações negativas sobre a presidência de Lula eram superiores;
no entanto, nos últimos meses, a percepção de que o governo atual é melhor que o anterior aumentou quatro pontos, passando de 33% para 37%, enquanto a opinião contrária caiu de 37% para 27%. Esse movimento reflete uma mudança de paradigma, onde os eleitores começam a enxergar as administrações com uma nova perspectiva.
Os impactos da economia e das políticas externas
Uma das razões apontadas para essas mudanças nas percepções é a melhoria na economia. No atual cenário, Lula encorajou uma retórica de “soberania nacional” em resposta ao tarifaço imposto pelos Estados Unidos, o que favoreceu sua imagem entre os eleitores indecisos e contribuiu para um leve aumento na sua aprovação, que agora chega a 42% entre os ‘nem-nem’. Essa foi a menor diferença negativa do ano, mostrando um potencial de recuperação do governo diante da crise.
De forma geral, a pesquisa indica que o governo de Lula apresenta atualmente 46% de aprovação, um aumento em relação aos patamares alarmantes de desaprovação observados anteriormente. Um dos principais responsáveis por esta mudança, de acordo com Felipe Nunes, CEO da Quaest, é a queda nos preços dos alimentos, vital para conquistar a confiança dos eleitores indecisos.
Com o cenário se definindo a menos de um ano da eleição presidencial, as movimentações de ambos os candidatos e a reação dos eleitores ‘nem-nem’ continuarão sendo um elemento central para entender a dinâmica política brasileira.
As pesquisas de opinião são essenciais para capturar essas mudanças, e o foco dos partidos deve agora se adaptar à realidade dos eleitores indecisos, que estão se distanciando de Bolsonaro e sintonizando, ainda que de forma cautelosa, com Lula. Resta saber como essa tendência se desenvolverá até as eleições de 2024.