Às vésperas do início da temporada de exportação de soja nos Estados Unidos, a China, maior cliente mundial, não realizou nenhuma compra da commodity americana até agora, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA. A ausência de encomendas ocorre em um momento-chave, que normalmente concentra compras antecipadas pelo país asiático.
Impacto da guerra comercial entre EUA e China na exportação de soja
A relação entre China e EUA, marcada pela guerra comercial iniciada pelo governo Donald Trump, tem afetado significativamente o mercado global de soja. Os impostos retaliatórios, impostos pela China sobre a soja americana desde março, tornaram as cargas menos competitivas, levando as compras norte-americanas a paralisar-se neste período crucial.
Historicamente, os EUA representam o segundo maior fornecedor de soja para a China, atrás do Brasil. No entanto, os dados do governo americano mostram que, até meados de agosto, nenhuma carga de soja dos EUA foi encomendada para a temporada que começa em setembro — um padrão que se distingue das últimas temporadas.
Dados alarmantes revelam paralisia nas encomendas
- 2020: 11,9 milhões de toneladas
- 2021: 5,7 milhões
- 2022: 9,6 milhões
- 2023: 5,1 milhões
- 2024: 2 milhões
- 2025: zero
Desde 2020, as compras chinesas de soja americana nesta fase do ano sempre registraram quantidades significativas. A ausência de encomendas neste ano indica uma decisão de postergar compras ou buscar fornecedores alternativos, como o Brasil ou a Argentina, que têm aumentado suas exportações para a China.
Consequências e alternativas de abastecimento
Especialistas alertam que o impasse pode gerar riscos para os produtores americanos, que se encontram à beira de dificuldades financeiras. Enquanto isso, a China, que normalmente faz reservas em agosto para garantir o abastecimento inicial do “ano-safra”, já vem comprando grandes volumes de soja brasileira, com mais de 30 milhões de toneladas estimadas para os próximos três meses, segundo a consultoria Mysteel.
O setor brasileiro mantém estoques adequados, com cerca de 37 milhões de toneladas por vender da última safra, o que pode ajudar a preencher a lacuna de fornecimento, caso a situação persista. Além disso, a alta de preços no Brasil, que já subiu quase 20% neste ano, tem incentivado vendas com preços até 20% maiores em relação ao início do ciclo agrícola.
Perspectivas futuras e riscos econômicos
Embora a expectativa seja de que um acordo comercial entre Washington e Pequim possa restabelecer a normalidade nas negociações, a incerteza permanece. Caso a disputa continue ou se prolongue, o Brasil deve continuar como fornecedora alternativa, enquanto a China poderá recorrer a suas reservanças estratégicas para atender à demanda.
Por sua vez, as processadoras chinesas já adquiriram boas quantidades de soja brasileira nos últimos meses, inclusive embarques programados até novembro. No mercado, há a previsão de que o país importe entre 90 milhões a 105 milhões de toneladas por ano nesta década, demonstrando forte dependência, apesar dos riscos de sazonalidade.
Conforme analistas, o cenário atual evidencia que o mercado de soja está altamente sensível às tensões comerciais e às negociações diplomáticas, com impactos diretos no abastecimento global e na formação de preços.