A congressista republicana Marjorie Taylor Greene (R-Ga.) voltou a gerar controvérsia ao fazer comentários sobre a colega democrata Jasmine Crockett (Texas), questionando a autenticidade de sua experiência como mulher negra nos Estados Unidos. As declarações, consideradas por muitos como uma macroagressão, reacenderam o debate sobre racismo, representatividade e os limites do discurso político.
Greene questiona a vivência de Crockett e faz críticas superficiais
Durante entrevista no podcast de Megyn Kelly, Greene sugeriu que Crockett, que é negra, estaria dissimulando ou exagerando sua experiência de luta racial. “Ela claims to understand the Black American struggle, but her background — privada, com educação superior — a torna uma completa farsa”, afirmou Greene, atacando a origem socioeconômica de Crockett e sua trajetória acadêmica.
Greene também fez comentários depreciativos sobre a aparência da congressista, comparando sua aparência a “falsidades” como cílios, cabelo e unhas. Segundo ela, tais observações fazem parte de uma tentativa de desacreditar Crockett perante seus apoiadores e o público em geral.
Reações e análises: o que dizem especialistas e aliados
Por sua vez, Velma Sarma, professora de ética e direitos humanos na Case Western Reserve University, afirmou que as críticas de Greene configuram uma macroagressão — comportamento racista direcionado à aparência ou à identidade da mulher negra. “Quando Greene fixa seu olhar na aparência de Crockett ao invés de suas palavras, está reforçando um velho padrão racista”, explicou Sarma à HuffPost.
Portia Allen-Kyle, jurista da organização Color Of Change, destacou que tais ataques demonstram o quanto a experiência de ser Black, mesmo com educação e sucesso, continua sendo alvo de preconceito. “Precisamos entender que o racismo estrutural não se limita à pobreza, mas acompanha todas as esferas sociais, incluindo o Congresso”, afirmou ela.
Contexto político e histórica do ataque
Recentemente, Greene também criticou Crockett por sua maneira de falar, que é influenciada pelo uso do African American Vernacular English (AAVE). A congressista acusou Crockett de ser dissimulada por seu jeito de falar, embora ela já tenha esclarecido que seu sotaque mistura influências texanas e do Missouri.
Consultores políticos afirmam que essas investidas fazem parte de uma estratégia mais ampla de desconstrução da credibilidade de líderes negros, voltada a reforçar estereótipos racistas. “É uma forma de dessacralizar a autoridade de mulheres negras no espaço público”, comentou Deepak Sarma, especialista em estudios religiosos na Universidade de Yale.
O contexto mais amplo: racismo, educação e representação
Greene também insinuou que Crockett estaria “dourada” pelo fato de ter estudado em escolas privadas, uma crítica que, segundo aliados, reflete o esforço para desacreditar a inteligência e a capacidade de Crockett — uma estratégia recorrente contra líderes negros.
Para Allen-Kyle, essas ações demonstram uma tentativa de silenciar vozes negras que desafiam o status quo. “Ao atacar Crockett por sua aparência, origem e trajetória, eles mostram dificuldades em lidar com a ideia de uma Black woman ocupando posições de destaque na política”, completou.
Perspectivas futuras e impacto social
Especialistas alertam que ataques como os de Greene representam uma normalização de discursos racistas na política americana. Sarma reforça que essas ações revelam uma resistência ao avanço de lideranças negras, além de refletir uma estratégia de deslegitimação que visa desmobilizar movimentos por justiça racial.
O episódio reacende a discussão sobre os limites do debate político e a necessidade de combater práticas discriminatórias, especialmente quando voltadas a figuras públicas negras em ambientes tradicionais de poder. “A presença de Crockett na Câmara é uma vitória contra o racismo estrutural, e ataques como esses só reforçam a importância de lutar por uma sociedade mais igualitária”, conclui Allen-Kyle.