Brasil, 26 de agosto de 2025
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Empresas se incomodam com ‘blogueiros CLT’ e promovem demissões

Influenciadores internos enfrentam resistência das empresas por visibilidade e conteúdo nas redes sociais, levando até à saída do trabalhador.

Nos últimos anos, criar conteúdo nas redes sociais sobre a rotina profissional virou uma tendência nacional, com muitos funcionários transformando suas experiências em fontes de renda extra. Contudo, esse fenômeno tem gerado conflitos no ambiente corporativo, levando às demissões de alguns trabalhadores considerados influenciadores internos, conhecidos como “blogueiros CLT”.

De celebridades anônimas a ameaças internas?

A psicóloga Thamiris Castro, que atuou por quase dois anos em presídios no Rio de Janeiro, foi demitida em junho deste ano após viralizar vídeos compartilhando sua rotina profissional no TikTok. Ela revela que o desligamento ocorreu pouco tempo depois de sua chefe começar a segui-la nas redes sociais. “Nunca recebi advertência ou aviso prévio. Faltou diálogo, poderia ter havido uma conversa ou ajuste, mas não houve”, explica Thamiris.

A especialista afirma que, legalmente, a empresa não pode restringir as publicações do empregado. No entanto, divulgar informações sigilosas ou que prejudiquem a imagem corporativa pode gerar punições, incluindo a demissão por justa causa. “O trabalhador pode ser desligado por má conduta, especialmente se as postagens prejudicarem a reputação da empresa”, comenta a advogada especialista em direito trabalhista, Juliane Facó.

Impacto nas relações internas e na estabilidade financeira

Outro caso conhecido é da influenciadora e profissional de marketing Geovanna Pedroso, de 23 anos, que atuou em diversas empresas de tecnologia e agências. Apesar de manter sua criação de conteúdo como um hobby, ela sofreu represálias por colegas e chefes, que fizeram piadas e expressaram receio de perderem espaço por causa de suas redes.

Em setembro de 2023, Geovanna foi demitida em um corte de funcionários, sem o trabalho como influenciadora ser oficialmente mencionado como motivo. Desde então, ela busca se sustentar com o mercado de publicidade digital, mas destaca a instabilidade financeira, já que não possui contrato com agências de marketing e precisa buscar parcerias por conta própria.

Influenciadores internos: aliados ou ameaças?

Para alguns especialistas, a resistência das empresas decorre de uma compreensão limitada sobre a nova dinâmica digital. Leandro Oliveira, diretor da Humand, defende que, com o alinhamento estratégico, influenciadores internos podem ser grandes ativos para a marca. “A empresa que reconhece esse potencial e consegue integrar o conteúdo produzido pelos colaboradores enxerga uma oportunidade de fortalecer sua imagem”, afirma.

O especialista critica o modelo de gestão tradicional, que costuma desprezar ou banir influenciadores internos por medo de perder controle ou notoriedade. Segundo ele, essa postura impede que as organizações aproveitem talentos que já possuem presença digital e podem transformar suas redes em canais de comunicação autênticos e engajadores.

Transformação cultural e o papel do RH

De acordo com Carolina Dostal, diretora da ABRH-SP, é fundamental orientar os funcionários quanto ao que é adequado publicar. Recomenda-se evitar compartilhar dados confidenciais, opiniões polêmicas ou conteúdos que possam prejudicar a reputação da empresa. A capacitação e o diálogo são essenciais para uma relação positiva entre empregador e influenciador.

Leandro Oliveira acrescenta que a valorização do conteúdo do próprio trabalhador, sem expectativas de resultados imediatos ou ações invasivas, pode transformar esse perfil em uma vantagem competitiva. “Reconhecer e remunerar o protagonismo do colaborador nas redes é uma estratégia inteligente e alinhada ao cenário digital atual”, reforça.

Desafios, riscos e o futuro do trabalhador influenciador

As demissões de “blogueiros CLT” muitas vezes têm motivações de ressentimento ou ciúmes profissionais, e não estritamente pela violação de regras. Segundo Dado Schneider, especialista em comunicação, uma parte dessas demissões decorre de uma reação emocional das empresas, que percebem os trabalhadores influentes como uma ameaça à hierarquia.

Por outro lado, os demitidos podem encontrar dificuldades de recolocação, devido à chamada “lista negra”, que limita novas contratações por retenção de juízos sobre seu comportamento digital. Ainda assim, muitos ex-empregados encontram novas oportunidades no mercado, usando a mesma visibilidade conquistada na sua trajetória online.

Para Yuri Santos, ex-assistente de social media que foi desligado após quase dois anos na mesma empresa, a experiência serviu de impulso para uma carreira independente. “A visibilidade que ganhei abriu portas em outras marcas e setores. Ainda participo de projetos pessoais, mas hoje tenho maior autonomia e liberdade”, conta.

Já para Thamiris Castro, a experiência foi reveladora de uma nova fase profissional e de autoconhecimento. Após a demissão, ela virou atendente e passou a realizar atendimentos e palestras online, aproveitando o alcance que conquistou nas redes. “Foi terapêutico entender que posso usar minha exposição a meu favor. Ainda estou descobrindo meu caminho”, conclui.

O cenário indica que uma nova postura das empresas e a valorização dos talentos digitais internos podem transformar a relação entre trabalho e influência digital, criando ambientes mais abertos e produtivos na era da comunicação 4.0.

Para mais informações, acesse a fonte original: g1.globo.com

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