No último dia 24 de agosto, durante o Meeting 2025, evento realizado na cidade italiana de Rimini, um clima de reflexão e esperança tomou conta do espaço. Este encontro, que visa promover a amizade entre os povos, proporcionou um debate enriquecedor com os escritores Colum McCann e Javier Cercas, mediado por Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação. O foco da conversa foi a capacidade da comunicação de construir pontes em um mundo marcado por divisões e conflitos.
A importância da narrativa na comunicação
Durante o encontro, Colum McCann ressaltou a importância de uma narrativa acessível e inclusiva. Ele afirmou: “Não sei onde nasce uma história, mas sei que, para fazê-la nascer, é preciso estar aberto. Vivemos em um mundo cheio de certezas absolutas, onde esquecemos que uma história é a distância entre duas pessoas.” Para o escritor irlandês naturalizado americano, a essência de qualquer narrativa é o reconhecimento mútuo, uma compreensão que se faz necessária para que sociedade e indivíduos não fiquem perdidos.
O debate trouxe à tona a necessidade de comunicarmos com esperança, mesmo em meio a um cenário repleto de notícias negativas. Paolo Ruffini, por sua vez, enfatizou que a comunicação deve resgatar e compartilhar histórias que mostrem o bem, mesmo quando a escuridão parece ser a única realidade. “Ser católico não significa viver dentro de uma fronteira”, destacou, reforçando a ideia de que a comunicação é um instrumento poderoso que deve transcender barreiras.
O papel da verdade na era da desinformação
Javier Cercas também trouxe relevância ao tópico, convidando todos a “contar a verdade”. Ele mencionou que a verdade definitivamente nos tornará livres, enquanto as mentiras nos aprisionam. O escritor espanhol fez um paralelo sobre as diversas tecnologias de comunicação ao longo da história, desde a invenção da escrita até a atualidade, e como a utilização ética dessas ferramentas é fundamental. “O problema não é a tecnologia, mas sim o uso que fazemos dela”, declarou.
Essa reflexão é especialmente pertinente em tempos em que notícias falsas e desinformação proliferam. Para Cercas, comunicar-se com clareza e veracidade deve ser um objetivo constante, e ele acredita que, apesar dos desafios, essa é uma tarefa que todos devem assumir – especialmente os comunicadores e escritores. A mensagem é clara: é preciso desautomatizar a maneira como vemos o mundo e, através da escritura e do jornalismo, trazer à luz a humanidade das pessoas.
Humildade e escuta: virtudes essenciais
Colum McCann ressaltou ainda que é preciso haver humildade no ofício da escrita. Ele argumentou que tanto jornalistas quanto romancistas têm um papel importante, mas devem estar abertos e disponíveis. “Devemos sair para a rua, encontrar pessoas, contar histórias que funcionam mesmo quando não queremos contá-las”, destacou. A necessidade de escutar o próximo é um ponto-chave, tanto na comunicação escrita quanto nas interações do dia a dia.
O papel da Igreja também foi discutido, e McCann sublinhou que a mensagem do Papa Francisco sobre a importância de escuta e reconhecimento deve ser mais amplamente aplicada. No entanto, Javier Cercas alertou que a Igreja precisa atualizar sua linguagem para comunicar efetivamente a revolução social que representa.
O diálogo fechado nesta edição do Meeting em Rimini expôs as dificuldades e as esperanças que permeiam o mundo atual. “Embora vivamos em uma época complexa, é necessário que busquemos a reparação e a cura”, concluiu McCann. Em meio à polarização e ao medo, o que se exige é uma comunicação mais autêntica, que busque a verdade e construa compreensão e empatia entre os indivíduos.
A participação de escritores e comunicadores na construção de um mundo mais harmonioso é essencial, e o Meeting 2025 se mostrou um espaço propício para iniciar essas discussões. A tarefa agora é levar esses aprendizados para todos os cantos, promovendo a amizade, a escuta e, acima de tudo, a esperança.
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