No primeiro mandato de Donald Trump, ele ficou conhecido por usar um marcador preto para alterar uma previsão de furacão, alegando que Alabama seria afetado pela tempestade – o que não era verdade. Agora, em seu segundo mandato, a situação se agrava, e o ex-presidente parece disposto a aplicar o mesmo truque a uma gama ainda maior de dados e fatos.
Uma guerra contra os fatos
Sem a supervisão de conselheiros responsáveis ou membros do Congresso dispostos a defendê-lo, Trump inicia uma verdadeira guerra contra qualquer dado que não lhe convier. Desde estatísticas econômicas que o colocam em uma luz desfavorável até dados de criminalidade que não apoiam sua busca por maior poder, a tendência é desconsiderar ou manipular essas informações.
O governo dos EUA, que já foi um padrão de excelência em dados confiáveis, corre o risco de se tornar tão crível quanto as afirmações de sua porta-voz, que frequentemente elogia suas “grandes conquistas”. Essa situação impacta todos nós, desde médicos que buscam manter a saúde da população até líderes empresariais que precisam tomar decisões difíceis baseadas em dados reais.
A distorção da realidade
Esse impulso de Trump para distorcer a realidade muitas vezes parece surrealdado, surgindo de sua necessidade de estar sempre certo. Estatísticas deveriam ser neutras; uma previsão do tempo não se importa com política, assim como os dados sobre desemprego, inflação ou saúde pública. Contudo, o uso do marcador foi apenas um vislumbre de algo mais preocupante: a vontade de manipular não apenas as narrativas, mas também as próprias medidas que usamos para compreendê-las.
À medida que nos dirigimos para o outono de 2025, é difícil não sentir que os números que antes confiávamos começam a perder o sentido. Quando os números de criminalidade de Washington, D.C., não se encaixam em sua narrativa? Trivialize-os. Quando um fraco relatório de empregos não o favorece? Afaste o responsável pela divisão de Estatísticas do Trabalho. Quando o censo contabiliza imigrantes indocumentados? Simplesmente exclua-os.
A nova lógica de Trump
Trump descobriu uma fórmula simples: se ele não gosta do número, ele o muda. Sua intenção não é apenas “marcar” furacões, mas também dados sobre empregos, economia e saúde. Se ele deseja avaliações favoráveis, ele escolhe instituições de pesquisa que apresentem os resultados que deseja ouvir. O número pode parecer correto, mas a metodologia por trás dele costuma estar manipulada.
Essa abordagem ignora a realidade. Os trabalhadores desempregados não desaparecem apenas porque os dados foram ajustados, e uma pesquisa com apoiadores não representa a verdadeira opinião pública. A eficácia dos dados governamentais está em sua capacidade de informar a população sobre direções econômicas e sociais.
A necessidade de dados confiáveis
Dados são a essência do governo federal. Durante gerações, estatísticas federais têm sido a bússola pela qual os americanos navegam nos desafios da vida real e política. O Bureau de Estatísticas do Trabalho nos diz se a economia está crescendo ou se contraindo. O Censo mede a população que determina o poder político e o financiamento federal. Agências como os Centros de Controle e Prevenção de Doenças monitoram surtos e taxas de mortalidade, enquanto a EPA avalia a qualidade do ar e da água que consumimos.
Se os números do governo se tornam duvidosos, outras entidades precisam assumir esse papel. Estados têm a capacidade de acompanhar a criação de empregos, ocupação de leitos hospitalares e disseminação de doenças. As empresas também estão equipadas para medir a saúde econômica em tempo real.
Quem pode substituir o governo?
Se o governo federal abdica de sua função de contar e medir a vida coletiva, cabe a governadores, universidades e organizações privadas preencher essa lacuna. As informações podem ser compartilhadas de maneira confiável por meio de organizações sem fins lucrativos e veículos de mídia, criando um modelo de “verdade distribuída” — embora não ideal, pode ser um salvaguarda em momentos de crise.
Essa nova dinâmica, mesmo que não perfeita, poderia fornecer uma imagem mais clara do estado da nação. Contudo, a falta de um consenso sobre a veracidade dos números pode dificultar a resolução de problemas comuns.
É fundamental que o público permaneça atento a essa manipulação. Se aceitarmos números distorcidos, as mentiras se tornam parte do registro oficial. Mas se reagirmos, o poder do “marcador” de Trump perderá a força. O debate que se aproxima não será apenas político; será sobre quem podemos confiar para contar, medir e avaliar a vida coletiva dos cidadãos.
Em última análise, sem dados confiáveis, ficaremos impossibilitados de compreender e resolver nossos problemas.
Para mais reflexões de Michael Steele, Alicia Menendez e Symone Sanders-Townsend, assista ao programa “The Weeknight” de segunda a sexta-feira, às 19h ET, na MSNBC.