A deputada republicana Marjorie Taylor Greene manifestou-se negativamente contra a colega democrata Jasmine Crockett, questionando sua compreensão da história e do sofrimento dos negros nos Estados Unidos. As declarações, feitas nesta semana, levantaram uma onda de críticas por reforçar discursos racistas e macroagressões, especialmente contra mulheres negras na política.
Greene desafia a autenticidade da experiência de Crockett e suas repercussões
No episódio mais recente de uma troca acalorada, Greene disse que Crockett, que é negra, finge entender o “sofrimento” da comunidade afroamericana, alegando que sua trajetória não condiz com uma experiência autêntica. “Ela se apresenta como representante do povo, mas é fake, com uma educação cara, vindo de escolas privadas, e não conhece de verdade o que é lutar por uma vida digna,” afirmou Greene durante entrevista no podcast de Megyn Kelly. Essa afirmação foi interpretada por muitos como uma tentativa de deslegitimar a trajetória de Crockett, que enfrenta ataques constantes por sua forma de falar e sua origem.
Reações de especialistas e defensores dos direitos civis
Cientistas sociais e ativistas apontaram que o comentário de Greene caracteriza uma macroagressão — uma forma mais forte de microagressão, que busca diminuir a identidade e a experiência de pessoas negras. “Quando Greene foca na aparência de Crockett, ela reforça uma narrativa racista de que o sucesso e a inteligência de uma mulher negra são incoerentes com seu ‘lugar de origem’,” explicou Portia Allen-Kyle, diretora executiva do Color Of Change.
Ela destacou ainda que tais ataques, que se tornam cada vez mais frequentes, revelam uma estratégia de desumanização que tenta deslegitimar a capacidade das mulheres negras de liderar e de serem bem-sucedidas na política. Segundo analistas, essas atitudes refletem uma intenção de manter o racismo estrutural, independente do nível de instrução ou riqueza de Crockett.
Impacto da narrativa de Greene na cultura política
Durante entrevista no podcast, Greene também atacou Crockett por sua aparência, chamando suas escolhas de moda e seu modo de falar de “falsidade”. Começando a discussão com ataques pessoais, ela relacionou a trajetória de Crockett à de figuras como Barack Obama e Kamala Harris, acusando os democratas de fingimento em relação às origens negras delas — uma tática comum na política de manipulação racial.
Especialistas apontam que tais comentários reforçam uma narrativa racista ao tentar desconstruir a representatividade negra na política, além de perpetuar estereótipos prejudiciais. “A dificuldade de Greene em lidar com a presença de Crockett no Congresso revela o desconforto branco com a diversidade e o uso de expressões como AAVE (African American Vernacular English),” afirma Deepak Sarma, professor de estudos religiosos e culturais.
Repercussões e reflexões sobre o racismo estrutural
Defensores dos direitos civis ressaltam que ataques como os de Greene evidenciam a persistência do racismo na política americana. Allen-Kyle critica ainda a hipocrisia conservadora, que patrocina o desfinanciamento do ensino público enquanto se incomoda com a educação privada de lideranças negras como Crockett. “Eles desejam impedir que pessoas negras tenham acesso à educação de qualidade, pois sabem que isso as capacita a desafiar as narrativas racistas.”
Para Sarma, o episódio demonstra como o racismo estrutural ainda se manifesta de forma velada, mas persistente, na estratégia de desqualificar lideranças negras com ataques pessoais e questionamentos sobre sua autenticidade. “Greene e seus apoiadores representam uma face do racismo discretamente institucionalizado, que tenta menosprezar a capacidade das mulheres negras no poder.”
Perspectivas futuras e o combate ao racismo na política
Especialistas acreditam que esses episódios reforçam a necessidade de uma maior conscientização pública sobre o racismo estrutural e da importância de combater discursos de ódio. Crockett, por sua vez, manteve a postura firme e respondeu às críticas nas redes sociais, reafirmando sua trajetória e seu compromisso com a representatividade.
De acordo com Deepak Sarma, é fundamental que o debate público reconheça a face macro de agressões racistas, que têm por objetivo não só deslegitimar indivíduos, mas sustentar um sistema de exclusão e discriminação. O enfrentamento dessas atitudes é essencial para promover uma cultura política mais justa e igualitária.