Brasil, 25 de agosto de 2025
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Playlists públicas no Spotify revelam hábitos de figuras públicas e revelações provocativas

Site vazou playlists de celebridades e políticos, expondo detalhes de seus gostos musicais por meio de perfis públicos do Spotify

No mês passado, um site com um tom bem-humorado, intitulado The Panama Playlists, revelou hábitos musicais de cerca de 50 pessoas, incluindo políticos, executivos de tecnologia e jornalistas. O criador, que se identificou como “Tim”, coletou dados de perfis do Spotify acessados sem o conhecimento dos usuários, muitos dos quais tinham suas atividades públicas de escuta visíveis.

Dados expostos por playlists públicas no Spotify

Tim criou um site para divulgar suas descobertas, rindo do próprio trocadilho com os Panama Papers, vazamentos de documentos de bancos offshore. Entre as vítimas estavam o fundador da Salesforce, Marc Benioff, cuja playlist incluía a música “Billionaire”, e o CEO da OpenAI, Sam Altman, cuja lista revelou que ele precisou usar o aplicativo Shazam para identificar uma música de Missy Elliott, “Get Ur Freak On”.

Algumas playlists foram apagadas após a divulgação, como a de Altman, cujo porta-voz afirmou que a lista não pertencia ao executivo. O próprio Tim explicou que usou bots para raspar continuamente os dados de escuta de contas públicas no Spotify de figuras de setores diversos, incluindo políticos, jornalistas e bilionários.

Privacidade e configurações do Spotify

Por padrão, todas as playlists criadas no Spotify são públicas, uma decisão da própria plataforma que incentiva o compartilhamento social de hábitos musicais. Para esconder playlists antigas, o usuário precisa alterar manualmente a configuração de público para privado — uma tarefa que muitos desconheciam ou não se preocuparam em fazer.

Para os autores desta reportagem, a surpresa foi perceber que suas listas eram acessíveis a qualquer pessoa na internet, incluindo detalhes como músicas ouvidas em tempo real. O próprio Walz confirmou que, mesmo profissionais de tecnologia, se surpreenderam com esse nível de exposição.

Ameaças e implicações legais

Após a publicação, um porta-voz do Spotify afirmou que o criador do site viola as Diretrizes de Uso do serviço, que proíbem a extração automatizada de dados. Walz recebeu um e-mail de aviso de cessar e desistir, ao qual afirmou ter considerado sem “mérito”.

Ele justificou sua iniciativa como uma maneira de mostrar o quanto de dados pessoais pode ser coletado facilmente na internet aberta, comparando sua rotina atual à de trinta anos atrás, quando era necessário acessar arquivos físicos. Walz também revelou que escolheu os jornalistas do NYT, Mike Isaac e Kashmir Hill, por suas reportagens sobre privacidade e por serem alvo de sua investigação.

Reações e reflexões sobre privacidade digital

Embora o episódio tenha provocado risos por sua criatividade, também levanta preocupações sobre privacidade na era digital. Muitos usuários podem não perceber que suas atividades no Spotify, uma plataforma voltada ao consumo pessoal, podem ser facilmente acessadas por terceiros. Isso reforça a importância de revisar as configurações de privacidade e entender os limites do compartilhamento automatizado.

O caso também reascende debates sobre o conceito de privacidade intelectual, ou seja, o direito de consumir e expressar gostos pessoais sem que isso seja exposto publicamente, especialmente sem consentimento. Neil Richards, professor de direito, afirma que essa privacidade deveria ser garantida, independentemente de informações serem virtuais ou físicas.

Impacto na cultura do compartilhamento e na relação com redes sociais

Ao contrário do que ocorre em redes sociais, onde muitas vezes exibimos nossas melhores versões, as playlists públicas do Spotify representam uma exposição mais autêntica, uma janela realizada por quem realmente consome o que gosta. No entanto, o vazamento de Walz comprova que essa transparência voluntária pode virar uma vulnerabilidade.

Empresas como Instagram e TikTok também enfrentam o desafio de equilibrar recursos sociais com a privacidade do usuário. Recentemente, o Instagram lançou uma ferramenta de mapa de localização que gerou controvérsia, levando o CEO a defender sua decisão de tornar o recurso opcional, e não padrão.

Reflexões finais e futuras possibilidades

O episódio do Panama Playlists é um alerta para a crescente facilidade de acesso a dados pessoais na internet, mesmo em plataformas que parecem seguras à primeira vista. Para muitos, a exposição foi uma surpresa desagradável, reforçando a necessidade de maior atenção às configurações de privacidade e ao entendimento dos limites do compartilhamento de informações pessoais online.

Com a crescente adoção de mecanismos automatizados de coleta de dados, fica cada vez mais evidente que uma reflexão profunda é necessária sobre o direito à privacidade intelectual e a forma como nossas atividades digitais são acessadas e utilizadas.

Fonte: O Globo

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