Neste domingo (25), o Vaticano confirmou que o Papa Leo XIV recebeu em audiência o bispo Carlos Enrique Herrera Gutiérrez, ex-presidente da Conferência Episcopal da Nicarágua, que foi expulso do país em novembro de 2024. A reunião ocorreu na manhã de sábado, conforme comunicado oficial, sem detalhes adicionais divulgados.
Diálogo com o ex-bispo exilado e a crise na Nicarágua
O bispo Herrera Gutiérrez, bispo de Jinotega, foi afastado do país após criticar uma interferência de um prefeito pró-Ortega durante uma missa, episódio que agravou a perseguição aos líderes religiosos pelo regime de Daniel Ortega e Rosario Murillo. Desde 2022, ele ocupa o cargo de presidente da Conferência Episcopal da Nicarágua.
Após sua expulsão, Herrera foi acolhido por uma comunidade franciscana na Guatemala, conforme confirmação da agência ACI Prensa, parceira de CNA em espanhol. A Nicarágua possui nove bispos, dos quais quatro vivem no exílio, incluindo Silvio Báez, Rolando Álvarez e Isidoro Mora, também perseguidos ou obrigados a deixar o país.
Perseguição à Igreja e situação no exílio
O regime de Ortega intensificou a repressão à Igreja Católica, promovendo diversas ações ilegais, como a detenção de bispos. Rolando Álvarez, de Matagalpa, passou 17 meses sob prisão domiciliar e depois encarcerado, tendo sua cidadania nicaraguense revogada. Foram expulsos também o arcebispo Waldemar Sommertag, ex-núncio apostólico, em 2022, além de várias igrejas e instituições religiosas.
O governo de Ortega mantém forte antagonismo à Igreja, e o próprio Papa Francisco criticou o regime em março de 2023, comparando-o a ditaduras do século XX, acusando Ortega de um possível desequilíbrio pessoal. Apesar da perseguição, a fé no país permanece resistente, segundo análises de exilados e especialistas.
Perspectivas e resistência da Igreja na Nicarágua
Arturo McFields Yescas, ex-embaixador da Nicarágua na Organização dos Estados Americanos, que também está no exílio, afirmou que o Papa Leo XIV será um “verdadeiro leão”, defensor da fé no país, com força e humildade. Apesar do clima de opressão, há esperança de que a Igreja continue atuando e fortalecendo a resistência por meio da fé.
Recentemente, o regime confiscou a emblemática Escola São José, em Jinotepe, uma ação considerada uma afronta à liberdade religiosa, segundo Martha Molina, advogada e pesquisadora exilada. Molina, autora do relatório “Nicaragua: Uma Igreja Perseguida”, detalha quase 1.000 ataques do regime contra a Igreja até hoje.
Embora o Papa Leo XIV ainda não tenha se manifestado publicamente sobre a situação na Nicarágua, a esperança entre os exilados é de que sua atuação seja de defesa e proteção do povo nicaraguense perseguido, reafirmando o papel de um líder fiel ao evangelho e aos direitos humanos.
Esta reportagem foi inicialmente publicada pela ACI Prensa, parceira de CNA em espanhol, e adaptada para português.
