Nesta segunda-feira (25), as ações da construtora chinesa Evergrande foram oficialmente retiradas da bolsa de Hong Kong, encerrando uma trajetória de mais de uma década de turbulências. A medida confirma o colapso de uma das maiores e mais endividadas empresas do setor imobiliário na China, avaliada em mais de US$ 50 bilhões antes do agravamento da crise.
Fim de uma era para a maior construtora da China
A retirada da Evergrande do mercado acionário é considerada um passo inevitável pelos especialistas. Segundo Dan Wang, diretora para a China na consultoria Eurasia Group, “uma vez retirada da bolsa, não há como retornar”. A falência da empresa pode ter impactos profundos na economia chinesa, dado seu peso no setor imobiliário.
O setor imobiliário responde por quase um terço do Produto Interno Bruto (PIB) da China e foi um dos principais motores do crescimento econômico do país nas últimas décadas, com a Evergrande no centro deste processo. Muitas famílias chinesas investiram suas poupanças em imóveis, e uma crise nesse ramo ameaça diminuir o poder de compra, restringir o consumo e afetar a estabilidade financeira da população.
Razões e consequências do colapso da Evergrande
O declínio da gigante começou a se intensificar em 2020, após o governo chinês impor novas restrições financeiras às construtoras, limitando a quantidade de empréstimos que poderiam obter. Para sobreviver, a Evergrande precisou vender propriedades com descontos agressivos, acumulando dificuldades para honrar suas dívidas.
Com a inadimplência nas dívidas internacionais, a empresa entrou com pedido de falência em Nova York no ano passado, enquanto tentava proteger seus ativos nos EUA. Em janeiro de 2024, o Tribunal Superior de Hong Kong ordenou sua liquidação definitiva, uma vez que a companhia não conseguiu elaborar um plano viável para solucionar seus passivos bilionários, que somam cerca de US$ 45 bilhões.
Impacto na economia e no mercado imobiliário chinês
A crise da Evergrande expôs as fragilidades do setor imobiliário chinês, que vive uma fase de desaceleração acentuada. A venda de ativos da empresa até agora somou apenas US$ 255 milhões, enquanto os credores aguardam pelo pagamento de bilhões de dólares em dívidas vencidas.
Analistas alertam que a falência da gigante é um marco, mas não o fim do problema para o setor. Outros players, como a chinesa Country Garden, continuam enfrentando dificuldades para renegociar suas dívidas, com agravantes como a desaceleração econômica, desemprego e recuo do consumo interno.
Repercussões para a China e o mundo
O colapso de uma das maiores construtoras do país revela os perigos de uma bolha imobiliária que se desfez, agravando os problemas econômicos do país. Wang, da Eurasia Group, destaca que “a crise imobiliária é o maior entrave à recuperação econômica da China”, visto que o setor representa um terço do PIB e gera receitas para os governos locais.
Segundo especialistas, mesmo com as ações do governo chinês para reanimar o mercado com incentivos ao consumo de imóveis, carros elétricos e ações, o crescimento do PIB permanece em torno de 5%, nível considerado lento para um país que tinha taxas de mais de 10% há uma década.
Perspectivas para o setor imobiliário
Apesar do anúncio de medidas de apoio, a crise imobiliária na China ainda deve perdurar. Empresas como a China South City Holdings já receberam ordens de liquidação judicial, e a gigante rival Country Garden busca negociar uma saída para sua dívida de mais de US$ 14 bilhões. A próxima audiência de liquidação de alguns desses casos está prevista para janeiro de 2026.
O professor Shitong Qiao, da Universidade Duke, afirma que “o setor imobiliário chinês está em dificuldades profundas” e que “mais empresas poderão falir nos próximos anos”. Embora o governo tente evitar intervenções diretas em favor das construtoras, a expectativa é de uma recuperação lenta e gradual, sem sinal de que o setor voltará ao ritmo de outrora.
Com a falência oficial da Evergrande, resta à China e ao mercado internacional observar quanto dinheiro será recuperado e quais credores serão pagos na liquidação dos ativos. A próxima fase de disputas judiciais e negociações com credores deve ocorrer ao longo dos próximos meses.
Fonte: G1 Economia